A dupla condenação de prisioneiras na cadeia: um invisível objeto da saúde coletiva

Publication year: 1999

Tomando como instância de determinação os acontecimentos da vida em sociedade, este trabalho voltou-se para um dos espaços de punição e de disciplinamento social. Sob o marco da Teoria da Determinação Social do Processo Saúde-Doença estão aqui reordenadas à luz da categoria da Reprodução Social, algumas informações acerca das prisionairas confinadas em uma cadeia pública e de suas famílias, no intuito de evidenciar as especificidades da relação trabalho/vida/saúde no tecido da marginalidade social. Os dados obtidos nos permitem afirmar que a categoria da Reprodução Social, que foi operacionalizada por intermédio de indicadores que puderam expressar na sua síntese e diversidade das formas de trabalhar e de viver específicas das prisioneiras antes e durante a prisão, viabilizou caracterizar os distintos grupos sociais homogêneos e evidenciar as particularidades da rede de determinação do crime e do adoecimento expressos no mundo externo. Observamos ainda que, para não sucumbir ao mundo da instituição total, as identidades sociais manifestas no cárcere reverberam a memória de suas origens na pobreza, na carência e na miséria e são arquitetadas no embate entre a resistência à mortificação e ao processo de uniformização da personalidade (prisionização). Nessa complexa rede de determinação, as prisioneiras consróem perfis de saúde-doença que comportam manifestações comuns, mas também, diversamente, manifestações próprias da privação sócio-biológica que veio sendo arquitetado no estado de absoluta exclusão social, na exclusão do trabalho ou da vida ou nos espaços que as salvam da exclusão apenas pela pobreza
Taking society life events as a space of determination, this study looked to one of the punishment and social correction spaces. Oriented by the theory of social determination of the health and illness process, we have reordered - in the light of the Social Reproduction category - some information about the women confined in a public prison and their families. The objective of this study is to put in evidence the particularities of the relation work-life-health in the social marginality tissue.

Data obtained allow to say that:

the social reproduction category - composed by indicators that could synthesize the diversity of the specific way of working and living before and after the imprisonment - is capable of characterizing the distinct social homogenous groups and apprehending the social determinants of the health and illness process. We observed that, in order to resist to the total institution world, social identities manifested in jail reflect their poor, needy and miserable origin. They are conceived in the clash between the resistance to mortification and the process of personality uniformization (enjailment). In this complex net of determination, prisoners build health and illness profiles that bear similar manifestations, but also, different manifestations from the socio-biological privation that are concretized in their radical social exclusion - from work and life - or in the spaces that saved them from exclusion only by poverty