Comunicação na clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva: o caso do handover

Publication year: 2017

Introdução:

Unidades de Terapia Intensiva têm como objetivo fornecer suporte a pacientes críticos que exigem cuidados complexos e especializados, realizados por uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, com destaque para o enfermeiro. Neste ambiente, a comunicação está intensamente presente na troca de informações entre profissionais de saúde durante a transferência de turnos, o handover. Falhas nessa comunicação podem causar danos aos pacientes.

Objetivo:

Descrever o processo de comunicação entre os profissionais da equipe de enfermagem da terapia intensiva durante o handover; analisar tal processo de comunicação quanto à existência de ruídos e suas repercussões na segurança da prática de cuidado ao paciente hospitalizado; e discutir a comunicação na clínica do cuidado de enfermagem na terapia intensiva sob a ótica da segurança do paciente.

Método:

Estudo de campo, qualitativo e de cunho exploratório. O lócus foi a Unidade de Terapia Intensiva cirúrgica de um hospital federal, tendo participado 42 membros da equipe de enfermagem atuantes no handover e no cuidado direto ao paciente. A produção dos dados ocorreu através de gravação de áudio durante o handover, observação sistemática das práticas de cuidado da equipe de enfermagem e entrevista semiestruturada. Os áudios foram transcritos para um instrumento de handover elaborado com base na literatura, que foram analisados através de estatística descritiva quanto à presença ou ausência da informação nos itens que o compunham, sua completude e a presença de erros. Os dados da observação passaram por descrição densa. As entrevistas foram analisadas através da análise de conteúdo temático.

Resultados:

Houve ausência e incompletude de algum tipo de informação em todos os instrumentos. O erro esteve presente em 2,3% dos instrumentos analisados. Dentre as ausências, destaca-se o item avaliação do quadro do paciente, ausente em 99,2%, seguido pelo item plano de cuidados com 91,6% e os dados de identificação do perfil clínico do paciente com 67,93%. Quanto à incompletude, no item Dados objetivos, que se referem ao exame físico do paciente, as informações estavam incompletas em 100% dos instrumentos; nos Dados subjetivos, que tratavam da história do paciente e sua evolução clínica, estavam incompletos em 88,5% dos instrumentos; e os dados de perfil clínico dos pacientes com 32% de incompletude. A observação das práticas assistenciais mostrou que as falhas na comunicação entre os profissionais de enfermagem interferiram diretamente no processo de cuidar, pois geraram procedimentos desnecessários que poderiam acarretar danos aos pacientes. Os dados das entrevistas apontaram o reconhecimento da importância do handover, a comunicação face-a-face na beira de leito com a presença de todos os membros, livre participação destes no processo de comunicação, a utilização da comunicação verbal e escrita, o bom relacionamento entre a equipe de enfermagem. Também foram evidenciados ruídos como a ausência/incompletude de informações sobre o paciente, além chegadas atrasadas ou saídas antecipadas, tom de voz baixo, conversas paralelas, uso de dispositivos celulares, e pouca participação dos técnicos.

Conclusão:

Entender o papel da comunicação é importante para evitar ruídos que podem causar a descontinuidade da informação e resultar em procedimentos que colocam em risco a segurança do paciente. A partir dos ruídos identificados, propõe-se a elaboração de barreiras de segurança que promovam a comunicação efetiva no handover de enfermagem na Unidade de Terapia Intensiva.(AU)