Precarização do trabalho em serviço de atendimento móvel de urgência: repercussões para a saúde do trabalhador

Publication year: 2017

A presente dissertação tem como objeto de estudo a “precarização do trabalho em um serviço de atendimento móvel de urgência (SAMU) e suas implicações para a saúde do trabalhador”. A motivação para o estudo surgiu, inicialmente, atuando como enfermeiro socorrista em um SAMU, onde pude observar e vivenciar problemas e queixas por parte dos trabalhadores relacionados à precarização do trabalho, considerando a problemática da perda de direitos trabalhistas previstos em lei e o temor do desemprego e suas repercussões. Os objetivos foram identificar o entendimento dos profissionais de saúde sobre a precarização do trabalho de um serviço de atendimento móvel de urgência; descrever as repercussões da precarização do trabalho para a saúde do trabalhador de um serviço de atendimento móvel de urgência e analisar os mecanismos de enfrentamento adotados pelos trabalhadores de um serviço de atendimento móvel de urgência diante da precarização do trabalho. Estudo qualitativo, descritivo e exploratório. O campo utilizado foi o SAMU com base descentralizada, localizada em um município da região metropolitana do Rio de Janeiro, de administração pública e integrante do Consórcio Intermunicipal de Saúde da Baixada Fluminense (CISBAF). Participaram do estudo 11 enfermeiros, 02 médicos e 05 técnicos de enfermagem. Na coleta de dados no primeiro momento, foi utilizado um instrumento estruturado para a caracterização dos participantes e posteriormente foi utilizada a técnica de entrevista semiestruturada, contendo um roteiro com 12 questões acerca do objeto do estudo. Após a transcrição das entrevistas, os depoimentos foram categorizados mediante a técnica de análise de conteúdo e discutidos à luz da Psicodinâmica do Trabalho.

Os resultados evidenciaram 3 categorias:

insegurança e ausência de direitos trabalhistas, desproteção social, trabalho precarizado como fator de risco psicossocial à saúde do trabalhador e estratégias de enfrentamento e trabalho precarizado. Os trabalhadores se ressentem pelo fato de o vínculo temporário não garantir nenhum tipo de proteção social, gerando quadros de sofrimento psíquico evidenciados diante de sentimentos e expressões de medo, insegurança, impotência e de desvalorização. Acrescenta-se a angústia frente à possibilidade da perda do emprego com repercussões psicossociais fora do ambiente de trabalho. Diante da precarização do trabalho, os profissionais elaboram estratégias de defesa para se manterem produtivos e minimizarem o sofrimento. Conclui-se que o trabalho precário é um fator de risco psicossocial por acarretar implicações para a saúde do trabalhador e para o serviço de atendimento móvel de urgência, por interferir na qualidade e na continuidade de um serviço essencial à população.
The present dissertation aims to study the "precariousness of work in an emergency mobile service (SAMU) and its implications for the health of the worker". The motivation for the study appeared initially as a first aid nurse in a SAMU, where I was able to observe and experience problems and complaints on the part of the workers related to the precariousness of the work, considering the problem of the loss of labor rights foreseen by law and the fear of the unemployment and its repercussions. The objectives were to identify the understanding of health professionals about the precariousness of the work of an emergency mobile service; to describe the repercussions of the precariousness of the work for the health of the worker of an emergency mobile service and to analyze the coping mechanisms adopted by the workers of a mobile emergency service in the face of precarious work. Qualitative, descriptive and exploratory study. The field used was the SAMU with decentralized base, located in a municipality of the metropolitan region of Rio de Janeiro, public administration and member of the Intermunicipal Health Consortium of Baixada Fluminense (CISBAF). Eleven nurses, 02 doctors and 05 nursing technicians participated in the study. In the data collection at the first moment, a structured instrument was used to characterize the participants and later the semi-structured interview technique was used, containing a script with 12 questions about the object of the study. After transcription of the interviews, the statements were categorized through the technique of content analysis and discussed in the light of Work Psychodynamics.

The results showed three categories:

insecurity and absence of labor rights, social deprotection, precarious work as a psychosocial risk factor for worker's health, and coping strategies and precarious work. The workers resent the fact that the temporary bond does not guarantee any kind of social protection, generating pictures of psychic suffering evidenced by feelings and expressions of fear, insecurity, impotence and devaluation. Added to the anxiety is the possibility of losing employment with psychosocial repercussions outside the work environment. Faced with the precariousness of work, professionals develop defense strategies to stay productive and minimize suffering. It is concluded that precarious work is a psychosocial risk factor because it has implications for the health of the worker and the mobile emergency service, as it interferes with the quality and continuity of a service essential to the population.