Os grupos na atenção básica de saúde de Porto Alegre: usos e modos de intervenção terapêutica

Publication year: 2007

Trata-se de uma pesquisa sobre uma modalidade assistencial cada vez mais utilizada pelos serviços de atenção básica de saúde, em especial nas Redes de Atenção Básica: as oficinas, os grupos de promoção e educação em saúde e as palestras educativas. Estas constituem atividades assistenciais diferenciadas em relação aos demais atendimentos tradicionais nessa Área. Desse modo, surgem reflexões necessárias para a compreensão da introdução dessas práticas nos serviços. Entre outros aspectos, o objetivo central desta pesquisa é o de conhecer o perfil da assistência prestada nas Unidades que compõem a Rede Básica de Saúde de Porto Alegre, com enfoque nas atividades de grupo. Foram entrevistados profissionais de cada Unidade componente dessa rede e coletados dados referentes à estrutura dos serviços. Abordaram-se 116 profissionais, de um total de 124 serviços de saúde, sendo que, 96 destes desenvolviam atividades de grupos, no período em que os dados foram coletados. Constatou-se que, em grande parte dos serviços, todos, ou a maioria dos profissionais de diferentes Áreas da Saúde e níveis de formação, coordenavam e/ou participavam dessas atividades. As demandas atendidas nessa modalidade compreendem, principalmente, usuários portadores de doenças crônicas (hipertensão e diabetes) e gestantes. A ocasião em que acontecem essas atividades favorece ao usuário obter acesso a outros tipos de atendimento. Dessa forma, mais de 50 das Unidades realizam verificação de sinais vitais, hemoglicotestes, verificação de peso e altura, e, em menor proporção, distribuição de medicação. Conclui-se que, essas práticas são de uso crescente e representam parcela significativa dos atendimentos nos serviços básicos de saúde de Porto Alegre. Assim, elas fazem parte da rotina de atendimentos sistemáticos e atuam de maneira a vincular progressivamente os usuários à prática assistencial e à unidade, na medida em que eles têm a vantagem de usufruir múltiplos atendimentos. Além disso, evidenciou-se que as atividades de grupo têm relevância terapêutica por favorecerem a troca de informações, o aprendizado, esclarecimentos sobre aspectos relacionados à saúde e doenças e estimulam a participação “negociada” da população no que se refere às práticas terapêuticas e às suas próprias condições de vida e saúde. São, portanto, práticas inclusivas capazes de vincular os usuários aos serviços e de reformular, ainda que pontualmente, o modelo assistencial vigente. Essas reflexões apontam para a necessidade de compreender essas práticas na sua dimensão de qualificação da assistência coletiva e na dimensão estratégica de compensação de atendimento às crescentes demandas de saúde.