Áurea Moretti Pires “A Bela Subversiva”

Nome

Áurea Moretti Pires “A Bela Subversiva”

Data

Data de Nascimento: 12 de dezembro do ano de 1944

Sobre

Áurea Moretti Pires nasceu em 12 de dezembro de 1944 sob as mãos e cuidados de uma parteira. Viveu a infância na Fazenda Perobas, em São Joaquim da Barra/SP, nas décadas de 1940 e 1950, sua criação tem origem na vida rural, com convívio entre trabalhadores da fazenda e uma família católica. Durante a adolescência foi influenciada politicamente sob a leitura dos livros do Jorge Amado, onde se debruçou sobre o ideal do comunismo. Em 1965 como estudante de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), Áurea dizia que a revolução precisava mais de enfermeiras. Foi uma líder estudantil das Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN), movimento na região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. De 1965 a 1975 foi o tempo em que Áurea entrou para a luta armada, tendo sido presa em 1969 e torturada, levada à Organização Bandeirantes (OBAN). Enfrentou as torturas físicas e psicológicas desferidas pelos agentes do governo. Foi presa em Ribeirão Preto e passou por diversos presídios do estado, dentre eles o Tiradentes, em São Paulo, onde participou de uma greve de fome e conviveu com a ex-presidente Dilma Rousseff (Partido do Trabalhador). As sessões de tortura incluíam pau de arara e choque elétrico.
Em outubro de 1969 foi destaque no jornal Diário da Manhã, de Ribeirão Preto: "Eis a bela subversiva". Áurea foi referida assim por ser contrária ao regime militar opressivo imposto naquela época, no qual, sendo uma presa política, não poderia ceder entrevistas. Em 1972 os militares informaram que a militante havia acabado de encerrar uma greve de fome e tinha sido transferida. Áurea ficou presa por 4 anos e meio. Passou por quartéis, pela masmorra feminina do Presídio Tiradentes, chamada “Torre das Donzelas”, pela penitenciária de Tremembé, até a soltura, sob regime condicional. No total, sua passagem foi pelo Presídio de Tremembé, Presídio Tiradentes, Deops/SP, Quartel da Força Pública de Ribeirão Preto, DOI-Codi/SP, Cadeia Pública de Cravinhos e Complexo Penitenciário do Carandiru. Após sua soltura, em junho de 1972 viveu um ano em liberdade condicional, sendo constantemente perseguida pela polícia.
Deu continuidade ao seu curso de Enfermagem, e sua professora e organizadora do curso na USP, era Dona Glete de Alcântara, personalidade de grande relevância para a História da Enfermagem Brasileira.
Após a sua formatura recebeu o convite da Universidade Federal do Acre (UFAC) para realizar a abertura do curso de Graduação em Enfermagem. Como enfermeira, orientando as parteiras das comunidades, com técnicas apropriadas e ministrando cursos de enfermagem em Rio Branco e nos municípios do interior do Estado do Acre; Trabalhou na programação da Primeira Semana de Enfermagem do Estado do Acre, em conjunto Secretaria de Estado da Saúde. Trabalhou com indígenas e sem terras, em sintonia com a natureza e o povo da terra, formando pessoas das comunidades, fazendo horto medicinal.
Retornou à Ribeirão Preto no final desse projeto e iniciou trabalhos voltados à questão social. Constituiu família em Ribeirão Preto, tornando-se mãe de dois filhos e se mudando para o Vale do Ribeira. Nesta localidade trabalhou com plantas medicinais e comunidades carentes. Nos anos 1980, Áurea participou dos movimentos de democratização da saúde que se consolidou, com a Constituição de 1988, na criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Aposentou-se em 2014 como coordenadora do Programa de Fitoterapia e Homeopatia da Secretaria da Saúde e integrou programas de Práticas Integrativas e Complementares de homeopatia e acupuntura do SUS. Áurea Moretti foi uma das personalidades homenageadas no ato de posse da gestão do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) em 2015. Recebeu homenagens em diversas legislaturas de vereadores, inclusive recebeu a medalha comemorativa dos 125 anos da Câmara Municipal de Ribeirão Preto e teve o reconhecimento de seus relevantes trabalhos em prol da ecologia. Sua vida e trajetória democrática foram objeto de estudo para Programas de História e organizações de memórias da ditadura.
Seu falecimento foi no dia 15 de dezembro de 2022, deixando sua história marcada na saúde e na política, consolidando na História da Enfermagem Brasileira a força, a determinação, a coragem e a inovação na arte e ciência do cuidado.

“Mas acho que valeu. Que a gente contribuiu com a História do Brasil” (Moretti, 2003).

Autora: Magda Rosa da Silva. Enfermeira. Membro do GEHCES – UFSC.

Referências

RUSSO, Pedro Fernandes. Áurea Moretti: A mulher, a resistência e a tortura: Um estudo sobre a participação feminina contra a ditadura militar brasileira (1965-1975). 2015. 154 f. Dissertação (Mestrado em História) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho”, Franca, São Paulo, 2015. .

http://memorialdaresistenciasp.org.br/pessoas/aurea-moretti-pires/

 

http://www2.ufac.br/ccsd/enfermagem/albumhistorico1976a1979.pdf

 

https://www.ribeiraopreto.sp.gov.br/portal/mis/mis-memoria-oral

 

http://www2.ufac.br/ccsd/enfermagem/nossa-historia