Lieselotte Hoeschl Ornellas nasceu em Florianópolis, no Estado de Santa Catarina, mas viveu grande parte de sua infância em Lages. Seus pais, Walter Hoeschl (comerciário) e Maria Hoeschl (doméstica) eram imigrantes alemães de confissão luterana. Lieselotte tinha 5 irmãos, sendo duas mulheres e três homens. Ela estudou no Grupo Escolar Vidal Ramos, no período de 1924 a 1927, na Escola Complementar, de 1928 a 1930; no Instituto Cristão de Castro, de 1931 a 1932, e no Instituto José Manuel da Conceição, de 1934 a 1935. Estudou piano por vários anos, e sabia falar alemão, inglês e o “portunhol”, como se refere ao espanhol, que aprendeu em consequência de sua estadia na Argentina, durante quatro anos. Muito dedicada e estudiosa, tinha sempre notas sobressalentes, teve uma infância de liberdade, fartura e abundância numa vida simples de cidade pequena. Era enfermeira, graduada pela Escola Anna Nery (EAN), no ano de 1939. Seu interesse pela profissão começou a partir de leituras de biografias de Florence Nightingale, no colégio evangélico onde estudava, que a fez pensar que a melhor maneira de servir e ajudar ao próximo seria fazendo o curso de enfermagem. Lieselotte ingressou na Escola Anna Nery (EAN) no dia 1° de março de 1936, data na qual tinha 18 anos. Nessa época, a escola era dirigida pela norte-americana Bertha Lucile Pullen, que também era luterana. Lieselotte foi presidente do Conselho das Alunas (CA) com o beneplácito da diretora da EAN, pois esse órgão deliberativo possuía autonomia relativa em relação à diretora. Graduou-se no dia 22 de março de 1939. Ao concluir o curso de enfermagem, retornou à sua cidade com a ideia de ir trabalhar entre os índios em Goiás; entretanto, um surto de febre tifoide em Santa Catarina a fez voltar para o Rio de Janeiro, onde estudou administração de enfermagem, pretendendo voltar para sua cidade e trabalhar em Saúde Pública, mas em vez disso, aos 21 anos de idade, ela aceitou uma bolsa de estudos para fazer o curso de Nutrição no Instituto Nacional de Nutrição Professor Escudero, na Argentina, período em que se começava a projetar a profissão de nutricionista no Brasil. Permaneceu na Argentina de 1940 a 1943, momento em que se desenrolava a Segunda Guerra Mundial. Ao regressar ao Brasil, ela integrou o grupo de professoras da Escola de Enfermagem Anna Nery como Instrutora de Nutrição e fez parte do corpo docente do curso para nutricionistas, criado no Instituto de Nutrição da UFRJ. Em 1947, ela realizou o seu primeiro Curso de Pós-Graduação, College of Nursing, em Londres – Inglaterra, com bolsa do Conselho Britânico, objetivando ampliar seus conhecimentos numa área que não era abordada na Argentina, que era justamente a questão do racionamento alimentar em consequência da Guerra. Também fez curso de especialização nos EUA durante um ano, no qual buscou conhecimento voltado mais para a parte mecânica, o instrumental utilizado na nutrição. Em 1950, tornou-se chefe do serviço de dietética do Hospital dos Servidores do Estado. Ainda neste mesmo ano, compôs a equipe de socorro, juntamente com mais quatro médicos e sete enfermeiras para prestar assistência aos flagelados da inundação em Trinidad, Bolívia. Lieselotte ficara incumbida da preparação e diluição de leite e fórmulas infantis coordenando uma equipe de enfermeiras deixada pela enfermeira-chefe D. Isaura Barbosa Lima, antes de regressar para Santa Cruz. Mais de uma semana de trabalho foi recompensada com um convite para conhecer a capital La Paz. Lá, a equipe foi alvo de muitas atenções, dentre elas a recepção do diretor geral de Saúde Pública e do embaixador do Brasil na Bolívia. O auge das homenagens foi a condecoração conferida a cada membro da missão, no Palácio do Governo. Em ato solene, o presidente da República, em pessoa, na presença de todos os ministros de Estado entregou a cada um o diploma que dava direito à condecoração “El Condor de los Andes”. Lieselotte aproveitou a visita à capital para recolher muitas informações sobre alimentos locais que incorporou em seus registros. Lieselotte casou-se aos 34 anos, no ano de 1953, com Alfredo Carvalho Ornellas, médico da Legião Brasileira de Assistência (LBA), do Banco do Brasil, e professor de Puericultura e Pediatria da EAN, passando ela a assinar-se Lieselotte Hoeschl Ornellas. O fato de ter se casado com um médico causou sensação à época, quando a maioria das professoras da Escola era de mulheres solteiras, algumas para toda a vida e muitas das quais moravam na Residência da Escola. Lieselotte colaborou com Cecília Pecego Coelho e Anna Jaguaribe Nava na elaboração do livro “EAN: sua história, nossas memórias”, que foi publicado em 1997. Lieselotte foi prestigiada ao longo de sua história por seus feitos e suas contribuições com a nutrição e a enfermagem. Por sua contribuição prestada a ambas as profissões, Lieselotte Hoeschl Ornellas ganhou o reconhecimento profissional nessas duas áreas do campo da saúde. Em 2014, foi lançado no Congresso Brasileiro de Nutrição (Conbran) o Prêmio “Lieselotte Ornellas - Nutricionista Destaque no Brasil”, oferecido pela Asbran. Este é uma honraria que pretende reconhecer o mérito do trabalho do nutricionista que contribui com o desenvolvimento científico, tecnológico e cultural da ciência da Nutrição e com a promoção e reconhecimento social da categoria. Sua participação, tanto como docente quanto como profissional, contribuiu de forma singular para o desenvolvimento da Enfermagem e da Nutrição, sendo excelente nutricionista e exemplar enfermeira. Mérito que atribui à sua base de formação adquirida na Escola Anna Nery naquilo que foi o fundamento de sua vida.

APERIBENSE, Pacita Geovana G. de S.; BARREIRA, Ieda de Alencar. A Enfermeira Lieselotte Hoeschl Ornellas e o surgimento da profissão de nutricionista. Esc. Anna Nery, Rio de Janeiro,  v. 10, n. 3, p. 560-564,  dez.  2006 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452006000300028&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  31  out.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S1414-81452006000300028.

Aperibense PGGS; Peres MAA. [Lieselotte Hoeschl Ornellas: 1917 - 2017]. Hist enferm Rev. eletrônica [Internet]. 2017; 8(2):139-40. Disponível em <http://here.abennacional.org.br/here/v8/n2/a08.pdf>; acesso em 03/05/2019. Disponível em:<http://www.asbran.org.br/premio.php>. Acesso em 03/05/2019.