Atitudes de doentes com dor crônica frente à dor

Publication year: 1999

Os objetivos deste estudo foram caracterizar a orientação e a intensidade das atitudes frente à dor de doentes com dor crônica, identificar as associações entre atitudes e variáveis demográficas, de características da dor e socioculturais e comparar as atitudes no início e após alguns meses de tratamento. Sessenta e nove docentes de centro multidisciplinar de dor foram avaliados pelo inventário de Atitudes frente à Dor, versão breve, adaptado para a língua portuguesa. O inventário compreende 7 domínios.

Os conceitos básicoss de cada domínio são:

controle (possibilidade de controle pessoal sobre a dor); emoção (relação entre emoção e intensidade da dor); incapacidade (dor como incapacitante); dano físico (dor como indicativo de dano físico); medicação (medicamentos como o melhor tratamento para a dor crônica); solicitude (solicitude de outros para com a pessoa com dor); cura médica (existência de cura médica para a dor crônica). A amostra foi de mulheres em 71% dos casos e a idade média foi 50,8 anos.

As características da dor foram:

etiologia muscular (39,1%), oncológica (34,8%), neuropática (20,3%) e indeterminada (5,8%); duração média de 45,6 meses e intensidade média de 6,9 (0-10).

As características socioculturais foram:

escolaridade média de 7,4 anos, renda mensal per capita de 6 salários mínimos, 46,4% estava aposentada ou em licença-saúde, 65,5% informou ser católica e 56,5% foi procedente das regiões Sul e Sudeste do país.

As frequências de doentes com atitudes favoráveis em cada domínio foram:

controle (41,7%); emoção (56,9%); incapacidade (57,1%); dano físico (51%); solicitude (49,9%); medicação (63,3%); cura médica (73,8%). As médias de intensidade das atitudes representaram orientação "desejável"apenas nos domínios emoção e solicitude. Atitude favorável a que a dor incapacita associou-se à dor oncológica e ocupação remunerada. Atitude favorável à medicação como a melhor intervenção para dor ) crônica associou-se a idades elevadas, dor oncológica e ser procedente das regiões Norte, Noreste ou Centro-Oeste. Atitude favorável a que existe cura médica para dor crônica associou-se a dor com duração inferior a um ano, renda e escolaridade baixas e ser procedentes das regiões Norte, Nordeste ou Centro-Oeste. Atitude favorável à existência de cura médica para dor crônica associou-se a sexo masculino e renda baixa. Os domínios controle, emoção e dano físico não se associaram a nenhuma variável. Vinte e um pacientes foram avaliados no começo e entre 6 a 15 meses após o início do tratamento. Não se observaram diferenças nas atitudes dos doentes entre as duas avaliações.
The objectives of the study were to characterize the orientation and intensity of pain attitudes with chronic pain; to identify the associations between attitudes and demographics, pain characteristics and sociocultural variables, and to compare attitudes between the start and after a few months of treatment. Sixty-nine chronic pain patients from a multidisciplinary pain center were assessed by a short-form of Survey of Pain Attitude, adapted to the Portuguese language, containing 7 domains: control (the controllability of pain); emotion (relations between emotions and pain severity); disability (pain as a disability); harm (pain as an indicative of ongoing bodily harm); medication (medication as appropriate treatment for chronic pain); solicitude (solicitous response from others toward the person in pain); medical cure (accessibility of pain to a medical cure). The sample was female in 71% of the cases, the mean age was 50.8 years.

The pain characteristics were:

myofascial etiology (39.1%); oncologic etiology (34.8%); neuropatic etiology (20.3%); indetermined etiology (5.8%); the mean duration was 45.6 months; the mean intensity was 6.9 (0-10).

The sociocultural characteristics were:

average schooling of 7.4 years; monthly income per head of 6 minimum salaries; 46.4% were retired or on sick leave; 65.5% claimed to be catholic, and 56.5% originated in the south/southeast regions of the country.

The frequencies of patients with favorable attitudes in each domain were:

control (41.7%); emotion (56.9%); disability (57.5%); harm (51%); solicitude (49.9%); medication (63.3%); medical cure (73.8%). Only in the domains of emotion and solicitude had the mean intensity of attitudes a "desirable"orientation. Oncologic pain and remunerated occupation were associated with favorable attitude to incapacity; old ages, oncologic pain and origins other than south/southeast of the country were associated with a favorable attitude to medication. Duration of pain less than 1 year, little schooling, low income, and origins other than south/southeast of the country were associated with favorable attitude to solicitude. The male sex and low income were associated with a favorable pain attitude to medical cure. The domains of control, emotion and harm were not associated with any variable. Twenty-one patients from the sample were assessed at the start of the treatment and between 6 to 15 months after. There were no differences on pain attitude between the two phases of treatment.