Gestão dos Serviços de Enfermagem frente a terceirização em hospitais públicos: mediando conflitos

Publication year: 2019

Objeto do estudo:

terceirização dos serviços de enfermagem em hospitais públicos e as repercussões para o processo saúde-doença dos enfermeiros gestores que lideram equipes com múltiplos vínculos trabalhistas.

Objetivos:

Descrever a percepção dos enfermeiros gestores sobre a terceirização dos serviços de enfermagem em hospitais públicos; discutir as implicações da terceirização para o processo saúde-doença dos enfermeiros gestores; analisar os mecanismos de enfrentamento adotados pelos enfermeiros gestores, frente às implicações da terceirização para a saúde. Pesquisa qualitativa, descritiva e exploratória. O estudo foi desenvolvido em hospitais públicos, localizados na região metropolitana do Rio de Janeiro, cuja gestão é realizada por empresas terceirizadas. Os participantes foram 25 enfermeiros com cargo de chefia, responsáveis pela gestão dos serviços, selecionados através da técnica SnowBall. Na coleta de dados, trabalhou-se com a técnica de entrevista, mediante um roteiro com perguntas abertas sobre o objeto de estudo e na caracterização sociodemográfica, ocupacional e estado de saúde dos participantes, um instrumento estruturado. As entrevistas foram gravadas, transcritas e analisadas através da técnica de análise de conteúdo temática e os resultados analisados com o suporte da Psicodinâmica do Trabalho.

Os resultados evidenciaram 3 categorias:

a terceirização como estratégia de dimensionamento de pessoal e as respectivas repercussões para a prestação de serviços; trabalho terceirizado como fator de risco psicossocial para a saúde mental do enfermeiro gestor e as estratégias individuais e coletivas de defesa frente ao sofrimento psíquico no trabalho terceirizado. A terceirização em hospitais públicos foi instituída como estratégia de reposição de pessoal, frente ao déficit de recursos humanos devido a aposentadorias, desligamentos e afastamentos. Outro aspecto apontado, foi a contenção de gastos com pessoal, devido à necessidade de abertura de concursos e cumprimento de obrigações trabalhistas. Identificou-se aspectos positivos e negativos com a terceirização: no primeiro caso, houve melhoria da prestação de serviços, devido aos protocolos, normas e treinamento de pessoal, por outro lado, evidenciou-se problemas para a gestão dos serviços, em função dos vínculos distintos, instabilidade empregatícia, alta rotatividade de pessoal e descontinuidade dos processos de trabalho. Há repercussões negativas para a saúde dos gestores e demais trabalhadores, em função de conflitos no relacionamento interpessoal e do desgaste, devido às diferenças de vínculos e de tratamento. Diante deste contexto, observou-se o sofrimento psíquico dos gestores, por terem que administrar trabalhadores que, apesar de possuírem a mesma função, são tratados de forma diferenciada, devido aos vínculos, carga horária e demais direitos trabalhistas distintos. Para se manterem no trabalho e enfrentarem o sofrimento decorrente das inúmeras exigências de cunho técnico e relacional, os gestores elaboram estratégias individuais e coletivas de defesa. Conclui-se que, apesar de as estratégias de defesa elaboradas pelos gestores serem de grande relevância para a minimização do sofrimento e não desistência do trabalho, essas estratégias não promovem mudanças efetivas no contexto laboral, tendo em vista a baixa autonomia e relativo poder decisório dos gestores.

Object of the study:

outsourcing of nursing services in public hospitals and the repercussions for the health-disease process of nurse managers who lead teams with multiple labor ties.

Objectives:

To describe the perception of nurse managers about the outsourcing of nursing services in public hospitals; discuss the implications of outsourcing for the health- disease process of nursing managers; to analyze the coping mechanisms adopted by nurse managers facing the implications of outsourcing for health. Qualitative, descriptive and exploratory research. The study was developed in public hospitals located in the metropolitan region of Rio de Janeiro whose management is performed by outsourced companies. The participants were 25 senior nurses responsible for service management, selected through the SnowBall technique. In data collection, the interview technique was worked through a script with open questions about the object of study; and in the sociodemographic, occupational and health status of the participants a structured instrument. The interviews were recorded, transcribed and analyzed using thematic content analysis technique and the results analyzed with the support of Work Psychodynamics.

The results showed three categories:

outsourcing as a staff sizing strategy and the respective repercussions for service delivery; outsourced work as a psychosocial risk factor for the mental health of nurse managers and individual and collective defense strategies against psychic suffering in outsourced work. Outsourcing in public hospitals was instituted as a strategy of staff replacement due to the deficit of human resources due to retirements, dismissals and resignations. Another aspect pointed out was the containment of personnel expenses due to the need to open civil service examination and to fulfill labor obligations.

Positive and negative aspects were identified with outsourcing:

in the first case, there was an improvement in service delivery due to protocols, norms and personnel training; on the other hand, it was evident that there are problems for the management of services due to different ties, employment instability, high staff turnover and discontinuity of work processes. There are negative repercussions for the health of managers and other workers due to conflicts in interpersonal relationships and burnout due to differences in ties and treatment. Given this context, it was observed the psychological distress of managers because they have to manage workers who despite having the same function, are treated differently due to the ties, workload and other labor rights. In order to stay at work and face the suffering resulting from the numerous demands of technical and relational nature, managers develop individual and collective defense strategies. It is concluded that although the defense strategies elaborated by the managers are of great relevance for the minimization of suffering and not giving up work, these strategies do not promote effective changes in the work context in view of the low autonomy and relative decision making power of managers.