Um outro olhar sobre a organização do trabalho da enfermagem: o caso de um Centro Obstétrico

Acta paul. enferm; 17 (2), 2004
Publication year: 2004

Este artigo aborda a organização do trabalho da enfermagem no hospital, de forma a enfocar o sofrimento no trabalho. Buscamos conhecer a vivência subjetiva desses profissionais a partir do significado da hierarquia e implicitamente das relações de poder, o sofrimento que representa o exercício da profissão, as determinantes próprias do trabalho da enfermagem e os limites impostos pela organização hospitalar. As fontes inspiradoras foram 20 entrevistas semi-estruturadas (a totalidade delas não foi usada neste artigo) e algumas informações fornecidas pelo hospital visando o aprofundamento das questões levantadas nos depoimentos. O sofrimento começa, segundo Dejours (1992), quando a relação homem-organização do trabalho está bloqueada, quando o trabalhador usou o máximo de suas faculdades intelectuais, psicoafetivas, de aprendizagem e de adaptação e acha como resposta apenas sua insatisfação. Não são somente as exigências psíquicas do trabalho que fazem surgir o sofrimento, mas também a certeza de que o nível atingido de insatisfação não pode mais diminuir. Esta insatisfação se traduz na dificuldade da enfermeira em assegurar sua ação singular, o saber que lhe é próprio, o seu espaço no exercício profissional, bem como a uma perda de referência de modelos de cuidado na profissão que serviram por longos anos na figura da enfermeira submissa e despotilizada. Contudo, a sensação de opressão, identificada nos depoimentos, se constitui em um esboço de uma consciência da submissão, primeiro passo para negá-la, e conduz a enfermeira a perceber que não basta a competência técnica, a competência política é tão ou mais importante para o exercício de seu ofício.