Representaçöes de gênero e moralidade na prática profissional da enfermagem

Rev. bras. enferm; 51 (4), 1998
Publication year: 1998

Este texto é parte de um diálogo travado entre as autoras a partir de duas pesquisas:

uma sobre "As ambigüidades profissionais e condiçöes de trabalho e de cidadania das enfermeiras - estudo de caso comparativo entre o Distrito Federal e Säo Paulo" e a outra sobre "O impacto das condiçöes de trabalho das enfermeiras do Hospital Säo Paulo em vida sexual e reprodutiva". No seio das profissöes de saúde, a enfermagem ocupa lugar singular. Distingue-se tanto pela sua importância numérica, quanto pela prática profissional quase exclusivamente feminina. Culturalmente, cuidar é atribuída como tarefa de mulher (enfermeira, mäe, professora, assistente social); tratar é tarefa de homem (médico, pai, provedor). A dicotomizaçäo entre cuidar e tratar define uma série de outros conflitos, de relaçöes de poder e de hierarquia que se estabelecem na prática profissional da enfermagem.

Tais conflitos podem ser associados:

a) ao mito fundador de origem da enfermagem, gerador de uma moralidade e de uma competência que condicionam a prática profissional; b) feminilidade, a maternagem, a gestäo da intimidade e aos cuidados dos corpos, ou seja, as representaçöes sociais da enfermagem em relaçäo à condiçäo de gênero; c) ao caráter androcêntrico das relaçöes de poder e de sexualidade que subjazem no espaço profissional da enfermagem.