Sucessão de lideranças em enfermagem: pensar e agir hoje para garantir o amanhã
Leadership succession in nursing: thinking and acting today to ensure a better tomorrow

Rev. eletrônica enferm; 19 (), 2017
Publication year: 2017

O mundo experimenta uma crise de lideranças que tem evoluído com o envelhecimento de uma geração que foi pioneira em inovação e transformação da vida coletiva(1). Mudanças têm sido observadas com a presença de novas gerações, que com novos hábitos, valores e comportamentos estão assumindo a gestão de organizações ou na linha de frente dessas. No entanto, nenhuma mudança pode ser realizada apenas com o novo, as gerações anteriores continuam sendo fundamentais para qualquer organização(2). Em algumas áreas, realmente é necessário profissionais com perfil de mais agilidade, mas por outro lado é importante que o conhecimento e a experiência dos outros profissionais sejam valorizadas, uma vez que estas características, diante de tantas mudanças, também auxiliam no desenvolvimento das organizações(3-4). Nesse processo, a convivência nem sempre é harmoniosa, mas necessária para que as boas práticas de liderança sejam repassadas entre as gerações em benefício do bem comum(1). O ideal é que os líderes das organizações atuem com inteligência emocional e saibam gerir bem a convivência de ambos, assim como se preocupem com a ética e a relação profissional(5-6). Na concepção de Peter Drucker(7) o “líder é alguém capaz de fazer com que os outros o sigam, sendo principalmente esta o tipo de habilidade que melhor o descreve. O líder eficaz não é alguém que se adore ou se admire. A qualidade da liderança não se mede pela popularidade que gozam, mas pelos resultados que ele consegue produzir. Os líderes estão em grande evidência. É por isso que lideram pelo exemplo. A liderança não é uma questão de classificação, de privilégios, de títulos ou de dinheiro. É uma questão de responsabilidade”. Para esse autor, o preparo para a liderança, o compartilhamento de experiências e a preocupação com a sucessão e formação de novos líderes é fundamental para o sucesso de qualquer organização(7). Na enfermagem essa mudança vem ocorrendo de forma rápida e exige que as atuais lideranças se comprometam com o desenvolvimento da profissão, preparando e facilitando a troca de experiências entre as gerações de modo a planejar e garantir um futuro promissor para a carreira(1,8-9). O aumento da idade da força de trabalho(8,10-13), a iminente aposentadoria de grande número de enfermeiros nos próximos anos(11-12,14) associado ao fato de que, jovens enfermeiros demonstram pouco interesse em posições de liderança e ainda a falta de investimentos na formação profissional e no aprimoramento do desempenho na liderança(15) são aspectos que anunciam uma crise sem precedentes na enfermagem mundial(13,16). Essa crise tende a deixar os futuros líderes de enfermagem alienados e mal preparados para a função predizendo um impacto nos serviços de modo geral, desde as instituições de saúde até as universidades e centros de formação e pesquisa, onde os docentes/pesquisadores passam pelo mesmo processo de aposentadoria(17). Uma das possibilidades de se atenuar a situação é a realização de projetos que estimulem o compartilhamento de experiências entre profissionais de diferentes gerações, garantindo a sucessão de lideranças na enfermagem(8,17). Embora este seja um assunto da mais alta relevância, o processo de sucessão de lideranças não tem tido a atenção que merece, haja vista a limitada produção científica acerca do tema, o pouco investimento nas instituições de saúde e de educação em direção ao preparo de lideranças para o futuro, tampouco esse é um tema tratado como pauta em programas de educação permanente(9,11,17). Ao recorrermos a literatura sobre a temática em uma revisão não sistematizada observamos que se trata de tema inovador, mas incipiente inclusive em países desenvolvidos. Os resultados da pesquisa apontaram que existem artigos teóricos conceituais acerca do processo de sucessão de lideranças em enfermagem, porém poucas pesquisas mostram experiências de implantação e acompanhamento de processos sucessórios (PS), embora é consenso nos estudos a importância do tema para o futuro da profissão. A finalidade do PS é garantir continuidade da liderança nas instituições por meio do desenvolvimento e avaliação de indivíduos com potencial para ocupar futuras posições de comando(11,13). O PS é complexo e integra elementos como o planejamento estratégico, alocação de recursos, posição-chave a ser substituída/identificação de competências, seleção de líderes potenciais, desenvolvimento de liderança, mentoring/coaching e avaliação de candidatos(18-19). Estudos mostraram que o PS facilita a transição de líderes, diminui o estresse nas equipes, melhora a retenção e recrutamento de enfermeiros com alto potencial(8,14,18), reduz taxas de rotatividade de gerentes de enfermagem(8,13), diminui os custos de substituição(13-14,18,20), mantêm níveis de produtividade(18-19), melhora o ambiente de trabalho(8-13) e aumenta a satisfação do cliente e dos profissionais(9). O desenvolvimento de novas competências para liderança cria uma cultura que suporta a progressão de carreira, o que demonstra compromisso com o desenvolvimento da profissão(18). O PS garante padrões de qualidade na assistência em saúde e a preservação do conhecimento produzido pelas diversas gerações de enfermeiros. A partir da implantação do PS percebe-se o fortalecimento da gerência e liderança, dando continuidade a experiências de líderes mais experientes, que auxiliam na seleção, preparação e retenção de novos talentos. Esse processo também facilita o convencimento dos mais jovens em relação a importância de se tornarem líderes(13,21). Diante dessa realidade, para se protagonizar um futuro melhor para a enfermagem, é fundamental que haja preocupação e ocupação quanto a importante tarefa de desenvolver novas lideranças, sobretudo, possibilitando que as diversas gerações de enfermeiros sejam capazes de conviver em uma relação de respeito nos diferentes contextos de atuação. Para se ter sucesso na árdua tarefa de desenvolver um processo sucessório, é necessário uma relação mútua e respeitosa entre as gerações, de forma a oportunizar aos mais velhos, espaço para contarem suas histórias e oferecerem seus conselhos e, aos mais jovens, o compartilhamento de seus sonhos, dificuldades e desafios. Que ambos sejam capazes de trocar experiências, conhecimentos e vivências, planejando um futuro para a nossa profissão que atenda as diversas expectativas. O trabalho de um líder mais jovem pode ser bem feito e trazer bons resultados, porém é necessário que ele aceite os ensinamentos do profissional mais experiente, e que também se empenhe em passar a ele suas habilidades mais relevantes. Nesse contexto, cabe às organizações direcionar seus objetivos e o trabalho de seus profissionais, além de utilizar todas as ferramentas e habilidades que essa geração oferece para desenvolver o melhor trabalho possível. Esse pode ser um caminho para o alcance da formação de líderes eficazes pautados por comportamentos éticos e decisões inovadoras. Nesse editorial nos propusemos, além de trazer as ideias, apresentar na prática o que pode se resultar da convivência de diferentes gerações em busca do desenvolvimento da enfermagem e de seu crescimento. Ele foi escrito por docentes já em processo de aposentadoria preocupadas com o futuro da profissão e por suas jovens seguidoras que aliam a experiência dos mestres, aos sonhos do futuro de suas carreiras. Que esse texto seja convincente, o suficiente, para instigar líderes atuais, professores e pesquisadores sênior a se responsabilizar da importante missão de formar novas gerações, compartilhando saberes e experiências, promovendo a extensão do seu trabalho na vida de outros enfermeiros, deixando assim o seu importante legado na história.
The world has been experiencing a crisis in leadership that has evolved with the ageing of a generation that pioneered the innovation and transformation of collective life(1). Changes have been introduced by the younger generations, and with their new habits, values and behaviors, they have begun taking the reigns of the management or are in the front lines of organizations. However, changes do not occur merely through the presence of what is new; previous generations are still essential to any organization(2). Some areas actually require professionals with more agile profiles, but on the other hand, it is important that the knowledge and experience of other professionals be valued. In light of so many changes, the characteristics of older generations also contribute to the development of organizations(3-4). Throughout this process, coexistence is not always harmonious, but are necessary if good leadership practices are to be passed down generations for the common good(1). Ideally, leaders of organizations should employ emotional intelligence and have the ability to manage the coexistence of both generations, as well as address concerns about ethical and professional relationships(5-6). According to Peter Drucker(7) “a leader is someone who has the ability to make others follow, and it is mainly this type of ability that describes him the best. An effective leader is not someone who is loved or admired. The quality of leadership is not measured by popularity, but by the results they are able to produce. Leaders are highly visible. They therefore set examples. Leadership is not rank, privileges, titles, or money. It is responsibility.” Drucker defends that preparation for leadership, the exchange of experiences, and concern with leadership succession and training are essential to any organizations’ success(7). In nursing, this change has been taking place quickly and demands that current leadership commit to the development of the profession, preparing and facilitating exchange of experiences between generations in order to plan and ensure a promising future for the career(1,8-9). Factors such as the ageing workforce(8,10-13), the imminent retirement of a large number of nurses in the coming years(11-12,14), coupled with the low level of interest demonstrated by younger nurses in leadership positions and lack of investment in professional training and improving leadership performance(15) are a foreshadowing of an unprecedented crisis in nursing worldwide(13,16). This crisis tends to make future nursing leaders alienated and ill-prepared for the role, pointing to impacts in services in general, ranging from healthcare institutions to universities and centers for training and research, where professors/researchers are going through the same retirement process(17). One possibility to mitigate the situation is to implement projects to stimulate the sharing of experiences among professionals from different generations, ensuring leadership succession in nursing(8,17). Even though this matter is of the utmost relevance, leadership succession planning has not received the attention it warrants. This can be observed in the scarce scientific production on the theme, and low levels of investment in health and educational institutions in preparing future leadership, and, furthermore, the issue is not addressed in ongoing education programs(9,11,17). A systematic review of literature on the theme showed that it is an innovative yet incipient theme, even in developed countries. The review produced some theoretical and conceptual articles about leadership succession planning in nursing, however, few studies portrayed experiences with the implementation and monitoring of succession planning (SP), even though there is consensus on the importance of the topic for the future of the profession. The purpose of SP is to ensure continuity of leadership in institutions through the development and assessment of individuals with the potential to occupy future positions of command(11,13). This process is complex and includes elements such as strategic planning, resource allocation, identifying key position/competencies to be replaced, selecting potential leaders, leadership development, mentoring/coaching and assessing candidates(18-19). Studies have shown that SP facilitates leadership transition, decreases stress within teams, improves retention and recruitment of high-potential nurses(8,14,18), reduces turnover rates of nursing managers(8,13), reduces replacement costs(13-14,18,20), maintains levels of productivity(18-19), improves the workplace/environment(8-13) and increases client and professional satisfaction(9). The development of new leadership competencies creates a culture that fosters career progression, which demonstrates a commitment to the development of the profession(18). Succession planning also ensures quality benchmarks in health care and the preservation of knowledge produced by various generations of nurses. The implementation of SP helps strengthen management and leadership, giving continuity to the experiences of veteran leaders, who can contribute to the selection, grooming, and retention of new talents. This process also facilitates the process of convincing younger nurses about the importance of becoming leaders(13,21). In light of this reality, in order to build a better future for nursing, we must concern and occupy ourselves with the important task of developing new leadership. Above all, we must enable different generations of nurses to be capable of coexisting in a relationship of respect in the various fields of practice. To be successful, the laborious task of developing SP requires a mutual and respectful relationship between generations. In such a relationship, veteran nurses should have room to tell their stories and dole out advice and younger nurses should have the opportunity to share their dreams, difficulties and challenges. Both should be able to share their experiences and knowledge, planning a future for our profession that meets various expectations. The work of a younger leader can be well done and bring good results, however, they must also accept the teachings of more experienced professionals, and strive to pass on to them their more relevant skills. In this context, organizations are responsible for directing their objectives and work of their professionals, in addition to using all the tools and skills that this generation has to offer to develop the best work possible. This may be a path for reaching the training of effective leaders who base their practices on ethical behaviors and innovative decisions. In this editorial, in addition to presenting ideas, our objective is to present in practical terms the results of different generations coexisting in search of the development and growth of nursing. It was written by professors who are already going through the retirement process and who are concerned with the future of the profession and its young followers who join the experience of their masters with dreams for the future of their careers. We hope this text may be convincing enough to instigate current leaders, and senior professors and researchers to take on the mission of training new generations, sharing knowledge and experiences, and extending their work into the lives of other nurses, and in so doing, leaving behind a lasting legacy.