Relações de poder nas práticas cotidianas de profissionais de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal
Publication year: 2018
A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) configura-se como um ambiente terapêutico apropriado para o tratamento de recém nascidos (RN) de alta complexidade. Nesse cenário tecnológico, multiprofissional, regulamentado por leis e diferentes saberes desenvolvem-se relações de poder que para Foucault acontece como uma relação de forças, coagindo, disciplinando e controlando as pessoas. O objetivo deste estudo foi analisar os discursos dos profissionais acerca das relações de poder no cotidiano de trabalho de uma UTIN de um Hospital Universitário de Belo Horizonte- MG. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de perspectiva pós-estruturalista e ancorada no referencial teórico Foucaultiano. O cenário do estudo foi uma UTIN de um hospital público, universitário, geral, de Belo Horizonte, Minas Gerais. Os participantes foram 8 profissionais, sendo eles das categorias médica, enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, todas do sexo feminino. Os dados foram coletados por meio de entrevistas, a partir de um roteiro semiestruturado e a análise dos dados, por meio da técnica de Análise de Discurso. Os resultados desse estudo emergiram de um percurso semântico que se refere às relações de poder configuradas no cotidiano de trabalho desses profissionais.
Esse percurso semântico foi subdividido em três percursos temáticos:
as práticas de poder no cotidiano da UTIN; o poder como hierarquia e a necessidade do controle, e as relações de poder na UTIN.Os personagens discursivos selecionados como representantes foram:
coordenação, médico, enfermagem, sindicato, categoria profissional, residente, hospital, Sofia, Menino, bebe, RN, pais e família, enfermeiro e serviço de psicologia. A seleção lexical dos discursos apresentados pelos participantes mostrou-se diversificada tanto nos aspectos gramaticais quanto no seu teor e rigor científico com utilização de figuras de linguagem, sendo predominante o uso de hipérboles, metáforas, ironias, metonímias. Nesse contexto, no primeiro percurso temático sobre as práticas de poder no cotidiano da UTIN, essas se baseiam em um contrato de condutas marcadas por uma rotina normalizada pela instituição através de dispositivos de poder, tais como: a prescrição médica; a passagem de plantão; o enfermeiro; e a comunicação efetiva. Tratando-se da segunda temática sobre o poder como hierarquia e a necessidade de controle, os entrevistados trouxeram uma concepção de poder enquanto uma materialização da hierarquia, baseada na presença de normas e regras, personificada a alguém que manda. As questões do poder-saber e do poder-disciplinar presentes dentro de uma UTIN também influenciaram as relações dos profissionais com os pais. Na terceira temática sobre as relações de poder na UTIN, estas foram marcadas pela presença de resistência, concepções de poder relacionadas à vigilância hierárquica e a utilização da norma para controle do corpo. Os médicos foram apresentados como autoritários por não permitirem argumentações, tampouco discussão sobre alguma conduta do paciente, subentendendo um domínio sobre o julgamento. Já a relação entre enfermeiro e técnico de enfermagem foi considerada boa, embora seja referido que existam conflitos. O respeito foi mencionado em todos os discursos como algo importante nas relações, além da necessidade do trabalho em equipe, uma prática pouco presente e até mesmo inexistente dentro da unidade. Além disso, a fofoca foi considerada como algo que influencia o processo de trabalho em equipe. Contudo, foi possível compreender a configuração das relações de poder na UTIN a partir de suas práticas, do poder disciplinar e da necessidade de controle. Observou-se a circularidade do poder nesse cotidiano de trabalho, bem como seus efeitos nas relações entre os profissionais. E com isso considera-se essencial o desenvolvimento de pesquisa nas demais unidades hospitalares a fim de compreender as relações de poder no por meio do discurso dos profissionais, possibilitando identificar o panorama dessa temática, assim como suas potencialidades e fragilidades.(A)
The Neonatal Intensive Care Unit (NICU) is an appropriate therapeutic environment for the treatment of high-complexity newborns (NB). In this technological scenario, multiprofessional, regulated by laws and different knowledges develop power relations that for Foucault happens as a relationship of forces, coercion, disciplining and controlling people. The objective of this study was to analyze the professionals' discourses about power relations in the daily work of a NICU of a University Hospital of Belo Horizonte - MG. It is a qualitative research, from a post-structuralist perspective and anchored in the Foucaultian theoretical framework. The study scenario was a NICU of a public, university, general hospital in Belo Horizonte, Minas Gerais. The participants were 8 professionals, being of the categories medical, nurse, nursing technician, physiotherapist, speech therapist, all female. The data were collected through interviews, using a semi-structured script and data analysis, using the Discourse Analysis technique. The results of this study emerged from a semantic path that refers to the relations of power configured in the daily work of these professionals.