Publication year: 1986
A genérica declaração de que o ensino deva ajustar-se à realidade do trabalho profissional não deixa de ganhar ampla e pacífica adesão entre os enfermeiros.
Com vários anos de atividade profissional a autora se tem posto uma questão que lhe parece cada vez mais crucial e inquietante:
que ensino de enfermagem ministrar? A questão parece simples manifestação de ingenuidade, pois, tudo indica que o campo de atuação profissional e o mercado de trabalho do enfermeiro estão suficientemente definidos e às escolas compete atender às exigências de um e outro. No exame da enfermagem como integrante do sistema de saúde aquela foi abordada em suas relações com a estrutura econômico-social, historicamente determinada. Essa postura exigiu apontar as transformações e contradições da própria sociedade brasileira, tornadas mais agudas em anos recentes. A mesma orientação norteou o exame da área do ensino de enfermagem. Buscaram-se os determinantes da questão da enfermagem e do enfermeiro, suas transformações e desencontros nas relações coma estrutura social e situou-se aí a questão básica do ensino. Foi possível explicitar os desajustes que hoje o caracterizam e indicar diretrizes gerais e específicas que poderão oferecer uma resposta consistente à pergunta, inicialmente formulada. Identificados os determinantes da questão da enfermagem e do enfermeiro, defende a autora a necessidade de não renunciar ao cuidado direto do cliente, mas resgatá-lo ou conquistá-lo, tornando-se tal recuperação um projeto a ser concretizado. Tal projeto reclama sua articulação com o ensino de enfermagem pela sua significação transformadora. Este há de ser congruente, apontando para uma associação integradora entre o ensino e o trabalho, entre teoria e prática, como resultado sintético da superação da atual oposição entre o saber e o fazer. Isso força a esclarecer um primeiro ponto, que é a preservação do ensino em sua forma teórico-prática como núcleo técnico da enfermagem. Renunciar ao ensino desse núcleo é desqualificado ou incapacitar o enfermeiro para o exercício da forma de atuação que lhe é própria e que lhe cabe conquistar:
o cuidado direto. Essa afirmação traz consigo a exigência de manter uma atitude crítica acerca da demanda do mercado de trabalho. A técnica enquanto saber e enquanto intervenção prática se acha submetida às condições sócio-econômicas, políticas e ideológicas de sua constituição e seu ensino reclama necessariamente a explicitação dessas condições que a determinam. Preconiza-se a integração desse saber com as ciências sociais e com a prática social. Reconhecidos os antagonismos existentes numa sociedade dividida em classes, supõe-se uma tomada de posição sobre quem constitui o destinatário de suas atenções. Tal definição assume uma postura ética e fundamental para o estabelecimento de diretrizes curriculares e constitui a base para o encaminhamento da questão do ensino da enfermagem.