Intervenção do enfermeiro: uma análise a partir da prática
Publication year: 1989
O presente estudo foi realizado a partir de uma abordagem qualitativa e o método utilizado para estudar o processo de intervenção do enfermeiro foi o da Teoria Fundamentada nos Dados (GROUNDED THEORY). Esse método de investigação, descrito por GLASER & STRAUSS (1967), consiste na descoberta e desenvolvimento de teoria a partir de dados emergentes da prática, obtidos e analisados sistemática e comparativamente. Na primeira etapa, os dados do estudo foram coletados junto a quatro docentes de enfermagem e quatro enfermeiras. Posteriormente acompanhamos o trabalho de três enfermeiras de três diferentes unidades de internação da área clínica de um hospital geral de grande porte da cidade de São Paulo. Os dados foram coletados no período de setembro de 1987 a março de 1988. A amostra foi constituída com base no processo de amostragem teórica, cujo critério de seleção é o da relevância teórica para a descoberta e desenvolvimento do fenômeno estudado. A obtenção dos dados foi feita através de entrevistas semi-diretivas, observação participante e consulta e consulta a documentos analisados segundo o método de análise de comparação constante. Os resultados foram expressos numa organização conceitual, cuja categoria central é constituída por um processo que denominamos “tomando conta”. Este é um processo vivenciado pelos enfermeiros, no qual, pelo fato de estarem junto aos pacientes e perceberam os seus problemas, sentem-se no dever de tomar conta deles. Constituem esse processo quatro categorias inter-relacionadas e interdependentes. A primeira, “a tomada de conhecimento dos problemas dos pacientes”, caracteriza-se pela obtenção de informações a respeito dos problemas dos pacientes. Os problemas identificados, quem os identifica, quando e como são identificados, fazem parte dessa categoria. A segunda, “avaliação de problemas”, é um processo que consiste no julgamento das informações, envolvendo a análise, comparação e classificação dos problemas em situações de “risco”, de “urgência”, de “rotina” e de “conflito”. A terceira, “a decisão de intervir”, consiste na exploração e escolha das possíveis alternativas para a solução de problemas, e estas são constituídas pela possibilidade da situação ser resolvida pelo enfermeiro, pelos demais membros da equipe de enfermagem ou, se não, pelo médico. A quarta categoria, “avaliação de intervenção”, consiste, basicamente, do acompanhamento dos resultados das decisões tomadas. A manifestação da categoria central, assim como a das outras quatro categorias principais, é influenciada por uma série de fatores, entre os quais, a formação acadêmica dos enfermeiros, a pratica profissional, os seus valores pessoais e a estrutura institucional.