Prevalência e distribuição da infecção pelo Mycobacterium leprae por meio de marcadores sorológicos e geoprocessamento em Diamantina, Minas Gerais
Publication year: 2019
As medidas hoje estabelecidas para controle da hanseníase no Brasil ainda apresentam
vagarosas respostas em termos práticos, o que leva a crer que, mesmo que o país alcance
a meta de eliminação como problema de saúde pública, a negligência das ações pode
mantê-lo na situação de endemia. Os testes sorológicos podem ser de grande valia para
identificar a exposição de uma população à hanseníase. A análise espacial pode trazer
muitas informações sobre o padrão de transmissão da doença ou da infecção pelo
Mycobacterium leprae. O objetivo deste estudo foi analisar o uso de marcadores
sorológicos e de análise espacial para estimar a prevalência de infecção pelo
Mycobacterium leprae tendo em vista ampliar o escopo das ações de vigilância
epidemiológica da hanseníase. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e analítico
realizado no município de Diamantina, situado no Vale do Jequitinhonha/MG. Foi
composto por 3 populações, sendo: população 1 – casos notificados entre 2001 a 2014 e
contatos de hanseníase; população 2 - escolares de 7 a 14 anos matriculados em escolas
estaduais do município de Diamantina e população 3 - familiares e vizinhos de escolares
soropositivos e vizinhos de casos de hanseníase. Foram realizadas entrevistas, exame
dermatoneurológico e testes sorológicos. Os endereços foram georreferenciados. Os
casos de hanseníase soropositivos residiam na zona rural (p=0,016), com mais pessoas no
domicílio (p=0,009) e dormiam com pelo menos mais 1 pessoa (p=0,023). Os contatos de
hanseníase soropositivos mostraram significância estatística com a sorologia em relação
à faixa etária, sendo a maioria idosos (p=0,038) e 75,0% eram cônjuges dos casos
(p=0,035). Entre os escolares soropositivos, houve relevância estatística para o sexo
(p=0,032), em que a maioria era meninas (75,0%), cicatriz de BCG (p=0,005), a quase
totalidade era vacinada (94,4%) e em relação à convivência, 69,4% residiam com mais
de 4 pessoas no domicílio (p=0,027) e 80,6% dividiam o quarto com outra pessoa
(p=0,043). Para a população 3, houve mais chance de indício de sorologia positiva entre
os mais jovens (p<0,001) e contraditoriamente entre os viúvos desta amostra (p=0,041);
entre aqueles que residem em domicílios com menos cômodos (p=0,007), com renda
familiar em torno de 1 salário mínimo (p=0,002), que não possuem doença crônica
(p=0,012) e não possuem manchas na pele (p=0,034). Na análise espacial verifica-se áreas
hiperendêmicas e áreas com associação espacial local positiva (p=0,001) com taxa de
detecção altas (alto-alto) e baixas (baixa-baixa). Houve uma relação espaço-tempo entre
os casos diagnosticados com 03 anos de diferença e residentes dentro do raio de 100
metros (p=0,01). A concentração de casos e escolares soropositivos ocorreu em áreas de
menor renda familiar per capita e as áreas de concentração de sorologia positiva são
diferentes dos clusters de adoecimento (p<0,001).
Conclusão:
A pesquisa tem caráter inovador ao unir duas técnicas para subsidiar a vigilância epidemiológica da hanseníase em um município de média endemicidade. Os testes sorológicos foram capazes de indicar a cadeia de transmissão ativa, e a análise espacial, o padrão de distribuição da endemia no município, contribuindo para o planejamento das ações de prevenção pela gestão. Sugere-se estudos que utilizem amostras longitudinais e amostras de todos os setores censitários do município a fim de acompanhar os participantes soropositivos e monitorar a prevalência oculta da hanseníase.AU)
The measures established today for the control of leprosy in Brazil still offer slow answers
in practical terms, which leads one to believe that, even if the country reaches the goal of
elimination as a public health problem, neglect of actions can keep it in the situation of
endemic. Serological tests may be of great value in identifying population's exposure to
leprosy. Spatial analysis may provide a great deal of information on the transmission
pattern of the disease or Mycobacterium leprae infection. The objective of this study was
to analyze the use of serological markers and spatial analysis to estimate the prevalence
of Mycobacterium leprae infection in order to broaden the scope of epidemiological
surveillance actions of leprosy. This is a cross-sectional, descriptive and analytical study
carried out in the municipality of Diamantina, located in Vale do Jequitinhonha / MG,
Brazil. It was composed of 3 populations, being: population 1 - cases reported from 2001
to 2014 and contacts of leprosy; population 2 - schoolchildren aged 7 to 14 enrolled in
state schools in the municipality and population 3 - relatives and neighbors of seropositive
schoolchildren and neighbors of leprosy cases. Interviews, dermato-neurological
examination and serological tests were performed. The addresses were geo-referenced.
The cases of seropositive leprosy resided in the rural zone (p = 0.016), with more people
at home (p = 0.009) and slept with at least one other person (p = 0.023). Seropositive
leprosy contacts were statistically significant with serology in relation to the age group,
with the majority of elderly individuals (p = 0.038) and 75.0% being spouses of the cases
(p = 0.035). Among the seropositive schoolchildren, there was statistical relevance for
gender (p = 0.032), in which the majority were girls (75.0%), BCG scar (p = 0.005) where
almost all were vaccinated (94.4%), and 69.4% lived with more than 4 people at home (p
= 0.027) and 80.6% shared the room with another person (p = 0.043). For the population
3, there was more chance of having positive serology among the younger (p <0.001) and
contradictorily among the widows of this sample (p = 0.041); (p = 0.007), with a family
income of around one minimum wage (p =0,002), who did not have chronic disease (p =
0.012) and had no skin blemishes (p = 0.034). In the spatial analysis, hyper endemic areas
and areas with positive local spatial association (p = 0.001) with high (high-high) and low
(low-low) detection rates are observed. There was a space-time relationship between the
cases diagnosed with 03 years of difference and residents within the 100-meter radius (p
= 0.01). The concentration of seropositive cases and schoolchildren occurred in areas with
lower per capita family income, and the areas of positive serology concentration differed
from clusters of illness (p <0.001).