Educação crítica libertadora para a sexualidade do adolescente na escola rural, na Colômbia e no Brasil

Publication year: 2019

Introdução:

a educação para sexualidade é um pilar fundamental da saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes sendo discutida predominantemente no contexto das escolas urbanas. Pressupõe-se que existem elementos diferenciadores da sexualidade do adolescente inserido no contexto da escola rural e um distanciamento entre a educação para a sexualidade tradicional e as necessidades e desafios destes adolescentes.

Objetivos:

construir um processo educativo-libertador para a sexualidade dos adolescentes no contexto escolar rural, analisando a cultura, valores e saberes sobre a sexualidade dos adolescentes; identificando os elementos, singularidades e necessidades relacionadas com a sexualidade e promovendo o diálogo crítico da realidade da sexualidade no contexto da escola rural.

Metodologia:

foi desenvolvida uma pesquisa-ação de abordagem qualitativa, ancorada no referencial teórico-metodológico da educação crítica e libertadora de Paulo Freire.

O cenário foi duas escolas de ensino fundamental e médio:

uma localizada no distrito rural de Ipoema, Minas Gerais, Brasil e outra no município de Supatá, Cundinamarca, Colômbia.

Foram implementadas as quatro fases do itinerário freiriano:

investigação vocabular, tematização, problematização e avaliação por meio de sete círculos de cultura em cada escola. Participaram onze estudantes da escola brasileira e dezenove adolescentes da escola colombiana. Os dados foram produzidos no período de maio de 2017 a junho 2018, por meio de observação participante, grupos focais e mapa corporal na fase de avaliação. Para análise dos dados foi adotada a Análise Crítica do Discurso.

Resultados:

Há similaridades das duas escolas referentes às visões conservadoras e tradicionais sobre a sexualidade, com ausência de ações permanentes e falta de articulação entre área da saúde e educação para efetivar os processos educativos com caráter emancipador. O silenciamento foi identificado como prática social em torno da educação para a sexualidade, produzindo e reproduzindo vulnerabilidades corpóreas e sociais. A construção da sexualidade do adolescente é marcada, interdiscursivamente, pelo modelo biomédico, biológico e sexista, utilizando a tecnologia como forma de contestação frente às ausências e precariedades de um processo pedagógico crítico e libertador. As possiblidades de ruptura do silenciamento, das ideologias dominantes e a mudança de um ato esporádico, bancário e determinista para uma prática educativa crítica e democrática da sexualidade orientada pelo referencial de Paulo Freire em que o lúdico foi representativo, sendo os adolescentes protagonistas do processo.

Conclusão:

O processo educativo construído numa perspectiva ativa e crítica com os adolescentes, valorizando seus sonhos, opiniões, acolhendo suas dúvidas, sentimentos e medos apontou para uma ressignificação da educação para a sexualidade com potencial de transformação social e possibilitou uma pedagogia do corpo crítica e social. Neste aspecto coloca a sexualidade como uma dimensão humanizadora, reconhecendo os adolescentes como sujeitos criadores e agentes de mudança.

Contribuições e recomendações:

espera-se que os resultados contribuam para uma prática transformadora na educação para a sexualidade de adolescentes no contexto rural, no Brasil e na Colômbia, problematizando a formação de enfermeiros como agentes educadores para as populações na área rural e para a abordagem da sexualidade de forma crítica e libertadora; é preciso reeducar o conceito de sexualidade como dimensão humanizadora e avançar na discussão sobre como a tecnologia e a mídia interferem nos modos de vida e na construção da sexualidade dos adolescentes . Por fim, espera-se subsidiar discursos e práticassociais que superem os processos que usam o corpo e a sexualidade como dispositivos segregadores das infâncias e adolescências, retirando-lhes o direito de viver a saúde sexual e reprodutiva.(AU)

Introduction:

Sex education is a fundamental pillar of adolescent sexual and reproductive health, which is predominantly discussed in the context of urban schools. It is assumed that there are different elements of adolescent sexuality in the context of rural schools that could create a gap between traditional sex education and the needs and challenges of these adolescents.

Objective:

This research aims to build an educational-liberating process for adolescent sexuality in the rural school context, analyzing the culture, values and knowledge around it; identifying the elements, singularities and needs related to sexuality and promoting the critical dialogue in the rural school context.

Methodology:

This study follows an active qualitative research anchored in Paulo Freire's theoretical-methodological framework of critical and liberating education.

The scenario was two elementary and middle schools:

the former located in the rural district of Ipoema, Minas Gerais, Brazil and the latter in the municipality of Supatá, Cundinamarca, Colombia.

The four phases of the Freireian itinerary were implemented:

vocabulary investigation, thematization, problematization and evaluation through seven culture circles in each school. Eleven students from the Brazilian school and nineteen teenagers from the Colombian school participated. Observations of the participants were carried out from May 2017 to June 2018, focusing on groups and body map in the evaluation phase. For data analysis, the Critical Discourse Analysis was adopted.

Results:

There are similarities between the two schools regarding the conservative and traditional views on sexuality, with the absence of permanent actions and the lack of connection between the health and education areas to effect the emancipatory educational processes. Silencing has been identified as a social practice around sex education, producing and reproducing health and social vulnerabilities. The construction of adolescent sexuality is interdiscursively marked by a biomedical, a biological and a sexist model, using technology as a way of fullfilling the absences and precariousness of a critical and liberating pedagogical process. The possibilities of breaking the silence, the dominant ideologies and the change from a sporadic, banking and deterministic act to a critical and democratic educational practice of sexuality guided by Paulo Freire's framework in which the playful was representative, being the adolescents protagonists of the process.

Conclusion:

The educational process built on an active and critical perspective with adolescents, valuing their dreams, opinions, welcoming their doubts, feelings and fears pointed to a resignification of sexuality education with the potential for social transformation and enabled a social and critical pedagogy of the body. In this respect, it places sexuality as a humanizing dimension, recognizing adolescents as creative subjects and agents of change.

Contributions and recommendations:

the results are expected to contribute to a transformative practice in adolescent sex education in the rural context in Brazil and Colombia, problematizing the training of nurses as educators for rural populations and the approach of sexuality in a critical and liberating way; It is necessary to re-educate the concept of sexuality as a humanizing dimension and to advance the discussion about how technology and the media interfere with the lifestyles and the construction of adolescent sexuality. Finally, we hope to subsidize social discourses and practices that surpass the processes that use the body and sexuality as segregating devices of childhood and adolescence, removing their right to live sexual and reproductive health.(AU)