Publication year: 2019
Introdução:
O fator de crescimento epidérmico (EGF) é um biomaterial de origem peptídica que atua na pele estimulando a angiogênese e ativando os fibroblastos, favorecendo, assim, o processo de cicatrização. Porém, são necessários estudos que abordem a avaliação microbiológica de feridas tratadas com esse produto. Objetivo:
Avaliar a colonização por S. aureus e P. aeruginosa em feridas de pacientes diabéticos tratadas com fator de crescimento epidérmico (EGF) em comparação àquelas tratadas com gel de carboximetilcelulose a 2%. Método:
Estudo de coorte prospectivo, realizada a partir da coleta de material biológico de feridas por meio de swab estéril. A exposição do estudo foi o uso de EGF como tratamento. As análises laboratoriais incluiram técnicas de cultura para isolamento de P. aeruginosa e S. aureus a partir dos swabs, espectrometria de massas MALDI-TOF para confirmação ao nível de espécie, testes de suscetibilidade aos antimicrobianos, reações em cadeia da polimerase e ensaios para avaliação da capacidade de formação de biofilme pelas cepas isoladas. Resultados:
Foram acompanhandos 25 pacientes, dos quais 11 foram tratados com hidrogel e 14 foram tratados com EGF. Os pacientes tinham características sociodemográficas e clínicas semelhantes em ambos os grupos. Foram isoladas 13 cepas de S. aureus (8 de feridas tratadas com hidrogel e 5 de feridas tratadas com EGF) e 15 cepas de P. aeruginosa (4 de feridas tratadas com hidrogel e 11 de feridas tratadas com EGF). Não há diferença estatística significativa entre a resistência aos antimicrobianos nas cepas de S. aureus e de P. aeruginosa isoladas de feridas tratadas com EGF ou com hidrogel. Apesar disso, foram isoladas três cepas de MRSA e uma cepa de P. aeruginosa multirresistente. Em relação à formação de biofilme, sem discriminar as espécies de microrganismos, tem-se que 91,7% das cepas isoladas de feridas tratadas com hidrogel foram formadoras de biofilme, enquanto no grupo tratamento, apenas 50,0% das cepas foram formadoras de biofilme. Tal diferença é significativa sob o ponto de vista estatístico, com p-valor=0,039 no teste Exato de Fisher, razão de chances (OR) = 11,0 (IC = 1,1-106,4) e risco relativo (RR) = 1,83 (IC = 1,2-3,8). Assim, pode-se dizer que há 11 vezes mais chances (ou uma probabilidade 83% maior) de que cepas de S. aureus ou P. aeruginosa isoladas de feridas tratadas com hidrogel sejam formadoras de biofilme quando comparadas a cepas dessas espécies isoladas de feridas tratadas com EGF. Não há diferença estatística entre a carga microbiana de P. aeruginosa e de S. aureus em feridas tratadas com EGF ou com hidrogel. Não foram identificadas cepas com genes responsáveis pela síntese da leucocidina de Panton-Valentine em nenhum dos grupos acompanhados. Não há diferença estatística significativa na incidência de genes de virulência (exoU ou exoS) nas cepas de P. aeruginosa isoladas de feridas tratadas com EGF ou com hidrogel. Em condições estáticas, o EGF estimula o crescimento de P. aeruginosa e inibe o crescimento de S. aureus, tanto quando se avaliam o crescimento de células planctônicas quanto em biofilme. Conclusão:
O EGF pode ser considerado um fator de proteção contra a colonização de feridas crônicas por cepas de S. aureus ou de P. aeruginosa com capacidade de formação de biofilme. Sugere-se o desenvolvimento de novos estudos com a inclusão de maior número de participantes, para que se obtenha uma amostra que viabilize a validade externa dos resultados, bem como, para que sejam elucidados os mecanismos moleculares envolvidos nos resultados encontrados sobre a formação de biofilme.
Background:
Chronic wounds are a health problem worldwide, especially diabetic wounds and venous ulcers. Epidermal growth factor (EGF) is a biomaterial of peptide origin that acts on the skin stimulating the angiogenesis and activating the fibroblasts, favoring, thus, the process of cicatrization. However, studies are required that address the microbiological evaluation of wounds treated with this product. Objective:
To evaluate the colonization by S. aureus and P. aeruginosa in wounds of diabetic patients treated with epidermal growth factor (EGF) in comparison to those treated with 2% carboxymethylcellulose gel. Method:
A prospective cohort study, carried out from the collection of biological wound material by sterile swab. The study's exposure was the use of EGF as a treatment. Laboratory analyzes included culture techniques for isolation of P. aeruginosa and S. aureus, MALDI-TOF mass spectrometry for species-level confirmation, antimicrobial susceptibility testing, polymerase chain reactions and assays for evaluation of the capacity of biofilm formation by the isolated strains. Results:
Twenty-five patients were followed, of whom 11 were treated with hydrogel and 14 were treated with EGF. Patients had similar sociodemographic and clinical characteristics in both groups. 13 S. aureus strains (8 of hydrogel treated wounds and 5 of EGF treated wounds) and 15 P. aeruginosa strains (4 of hydrogel treated wounds and 11 of EGF treated wounds) were isolated. There is no statistically significant difference between antimicrobial resistance in S. aureus and P. aeruginosa strains isolated from EGF or hydrogel treated wounds. Despite this, three strains of MRSA and one strain of multidrug resistant P. aeruginosa were isolated. In relation to biofilm formation, without discriminating the species of microorganisms, 91.7% of the strains isolated from wounds treated with hydrogel were biofilm-forming, while in the treatment group only 50.0% of the strains were biofilm-forming. This difference is statistically significant, with p-value = 0.039 in Fisher's exact test, odds ratio (OR) = 11.0 (CI = 1.1-106.4) and relative risk (RR). = 1.83 (CI = 1.2-3.8). Thus, it can be said that there are 11 times more likely (or 83%) that strains of S. aureus or P. aeruginosa isolated from hydrogel-treated wounds form biofilm when compared to strains of these isolated wound species. treated with EGF. There is no statistical difference between the microbial load of P. aeruginosa and S. aureus on wounds treated with EGF or with hydrogel. Strains with genes responsible for the synthesis of Panton-Valentine leucocidin were not identified in any of the groups followed. There is no significant statistical difference in the incidence of virulence genes (exoU or exoS) in strains of P. aeruginosa isolated from wounds treated with EGF or with hydrogel. Under static conditions, EGF stimulates the growth of P. aeruginosa and inhibits the growth of S. aureus, both when evaluating planktonic cell growth and biofilm growth. Conclusion:
EGF can be considered a protective factor against colonization of chronic wounds by S. aureus or P. aeruginosa strains with biofilm formation capacity. It is suggested the development of new studies with the inclusion of a larger number of participants, so as to obtain a sample that enables the external validity of the results, as well as to elucidate the molecular mechanisms involved in the results found about biofilm formation.