Dor crônica: categoria diagnóstica ou síndrome?
Pain: diagnostic category or syndrome?

Publication year: 1998

O pressuposto básico deste estudo foi o de que a dor crônica é uma síndrome composta por vários diagnósticos de enfermagem. Buscando evidências de que existe uma composição de diagnósticos que se mantém estável independentemente da etiologia da dor crônica, foram estabelecidos os seguintes objetivos: caracterizar a dor de pacientes com dor crônica oncológica e não oncológica segundo intensidade e qualidade; comparar os perfis de diagnósticos de enfermagem entre desses dois grupos, em termos de qualidade e frequência; sugerir diagnósticos de enfermagem componentes de possível síndrome da dor crônica.

A população do estudo foi composta por 114 doentes em tratamento ambulatorial de dor crônica divididos em dois grupos:

68 (59,6%) com dor crônica oncológica e 46 (40,4%) com dor crônica não oncológica. A idade média dos doentes foi de 53,1 anos; 54,4% era do sexo feminino, e o tempo médio de escolaridade foi de 5,4 anos. Os registros das primeiras consultas de enfermagem realizadas em 1996 e 1997 foram a base para a formulação dos diagnósticos e fonte dos dados para caracterizar a dor. Para comprarar os grupos quanto às variáveis estudadas foram aplicados testes não paramétricos. Foram aceitos, para compor possível síndrome da dor crônica, os diagnósticos posicionados, pela sua frequência, acima do Percentil 75 e que não tiveram diferença estatística de frequência entre os dois grupos. Os resultados permitiram concluir que os doentes com dor oncológica referiram dores maisintensas do que os com dor não oncológica; nos dois grupos a intensidade média de dor foi moderada e as médias do número de descritores escolhidos e do índice de dor do Questionário McGill ficaram mais próximas dos limites superiores dos intervalos possíveis de variação. Quanto aos diagnósticos de enfermagem, no grupo de doentes com dor oncológica, houve 353 diagnósticos (média de 5,2 e variação de 1-12) e no de dor não oncológica 191 ) (média de 4,1 e variação de 1-9). O número de diagnósticos no grupo com dor oncológica foi maior do que no grupo com dor não oncológica. Das 36 categorias diagnósticas identificadas para o conjunto da população, 6 tiveram frequências estatisticamente superiores na dor oncológica: obstipação, alteração nutricional: menos que o corpo necessita, alteração sensorial gustativa, risco de aspiração, deglutição prejudicada, alteração dos processos de pensamento + confusão mental + memória prejudicada. Os diagnósticos "risco para obstipação"e "alteração da sexualidade"tiveram frequências estatisticamente superiores nos doentes com dor não oncológica. Os diagnósticos sugeridos para compor a "síndrome da dor crônica"foram: "distúrbio no padrão do sono", "déficit de conhecimento", "ansiedade"e "medo", "intolerância à atividade"e "mobilidade física prejudicada".
The basic assumption of this study was that chronic pain is a syndrome compounded by different nursing diagnoses. Searching for evidences that exists a group of diagnoses that is stable independently of the pain ethiology, were defined the following objectives: to characterize the patients with oncologic and non oncologic pain according intensity and quality of the pain; to compare the profile of nursing diagnoses between these two groups, according its quality and frequency, and to suggest nursing diagnoses to compound a possible chronic pain syndrome. Were studied 114 patients in treatment of pain in an ambulatory care setting.

The patients were divided in two groups:

68 (59,6%) with oncologic chronic pain, and 46 (40,4%) with non oncologic chronic pain. Their mean age was 53,1 years old, 54,4% were female, and the mean time os schooling was 5,4 years. The records of the first nursing consultation, were the basis to formulate the diagnoses and the source of data to characterize the pain. Were applied non-parametric tests to compare the variables between the groups. Were accepted, as a component of a chronic pain syndrome, the diagnoses positioned above the Percentile 75 which frequencies weren't different between the groups. The results allow to conclude that the patients with oncologic pain reported higher intensity of pain than the patients with non oncologic pain; in both groups the mean intensity of pain was moderate; the mean of descriptorschosen, and the mean of pain rating index of the McGill Pain Questionnaire were nearest the maximum limits of the possible ranges than the minimum limits. For the patients with oncologic pain were formulated 353 diagnoses (mean of 5,2 and range from 1-12), and for the patients with non oncologic pain, 191 (mean of 4,1 / range from 1-9). The number of nursing diagnoses were higher for the oncologic pain patients. There were 36 categories of nursing diagnoses for the 114 patients.

Six of them had higher frequency for the patients with oncologic pain:

constipation, altered nutrition: less than the body requirements, risk for aspiration, impaired swallowing, sensory-perceptual alteration (gustatory) altered thought processes + mental confusion + impaired memory. The diagnoses risk for constipation, and altered sexuality patterns had statistically higher frequencies for the patients with non oncologic pain.

The suggested nursing diagnoses to compound the chronic pain syndrome were:

sleep pattern disturbed, knowledge deficit, anxiety and fear, activity intolerance and impaired physical mobility.