A construção social da hanseníase: perfis de reprodução social dos hansenianos do município de São Paulo
Publication year: 1999
Este trabalho tomou como objeto a relação trabalho/vida dos hansenianos do Município de São Paulo no ano de 1996. Fundamentando-se na teoria da determinação social do processo saúde-doença e tomando a Reprodução Social como categoria de análise, buscou-se reconhecer as formas de reprodução social dos hansenianos. A preocupação central foi a de ampliar as evidências acerca da rede de determinação da hanseníase, buscando produzir conhecimento que subsidie a extensão dos projetos de intervenção em hanseníase. Realocando o conhecimento epidemiológico até hoje produzido na área, tomando a família como unidade amostral, foram colhidas informações junto a uma amostra proporcional dos 2.156 hansenianos em controle sob a responsabilidade da Direção Regional I - DIR-1 - Capital. A partir de uma base teórico-metodológica-operacional que pré define três grupos sociais homogêneos (GSHs), foram levantados indicadores das formas de trabalhar e de viver para compor perfis de reprodução social. Os resultados mostram que, muito embora as famílias dos hansenianos se definem em torno de um eixo social comum, de caráter supra-grupal, as diferentes possibilidades de trabalho/vida identificadas nas famílias dos hansenianos permitem particularizar 3 formas específics de reprodução social (3 GSHs/ 3 estratos). Observou-se, então, que a maior parcela está concentrada nos grupos marginalizados da produção social, deslocados para regiões em que a exclusão social é mais acentuada, no espaçocompreendido pelos anéis periférico e exterior da cidade, reduto das famílias jovens e precariamente integradas no trabalho e na vida. Construindo-se na rede que opera a marginalização do usufruto do espaço geo-social, do trabalho e da vida, a depender de GSH/ estrato em que se inscrevem, os hansenianos apresentam, tal qual seus parceiros de reprodução social, diversidades no trabalho que realizam e em manifestações particulares da doença. A manter-se ) a tendência de concentração dos hansenianos no estrato inferior, renovar-se-á a produção da hanseníase no nosso Município, a partir dos excluídos da região sudeste ou de migrantes nordestinos que sobrevivem nos subempregos ou na malha periférica da produção capitalista, pulverizados nos trabalhos precários e desqualificados e num espaço de reprodução que, parece, vem sendo insidiosamente contaminado por um processo de juvenilização familiar e feminilização da doença. Assim sendo, o estudo recomenda que se examine com atenção as possíveis transformações no padrão de exposição à doença no Município de São Paulo.
This study discusses the relation work/life of leprosy patients notified in São Paulo City Public health services in 1996. Oriented by the theory of sicial determination of the health-ilness process, and taken into account the Social Reproduction category, their social patterns was studied. The main purpose of the study was to emphasize the evidences of the disease determination net, searching for new knowledge in order to improve leprosy public policies. Information was gathered from a sample of those leprosy patients notified in the city public health services. Social homogeneous groups (SHGs) were built on a theoretical-methodological-operational basis in order to characterize their family, work and life patterns. Result shows that, in spite of patient's families are characterized by common social axis, different work/life possibilities allow a classification of patients in three SHGs. It was observed that the majority of the patients belongs to marginal groups of the social production, living in regions where the social exclusion is more intense, the peripheral bound of the town, occupied by young and poorly inserted in work and life families. Based on the place they live, and depending on the SGH they are inserted, leprosy patients and also their partners show diversity on work and specific manifestation of the illness. If the tendencies showed in this study are mantained the production of new leprosy patients will involve the social exclusionpopulation of the southeast and the northeast migrants. Furthemore, this study speculate the role of young and female patients in the determination net of this infective desease in São Paulo City