Revista brasileira de enfermagem e a política de identidade profissional da enfermeira no Brasil - 1932 a 1941
Publication year: 1999
Tomando como referenciais teóricos a perspectiva sociocultural de Vygotsky e da identidade em metamorfose de Ciampa, o trabalho tem como finalidade analisar a política de identidade profissional da enfermeira desenvolvida pela associação Brasileira de Enfermagem (ABEn), no período de 1932 a 1941. Partindo-se do pressuposto de que o significado seja cultural e historicamente construído, procedeu-se à leitura dos artigos dos Anais de Enfermagem (A.E., atual Revista Brasileira de Enfermagem), órgão oficial de divulgação da ABEn, visando compreender o significado atribuído à profissão pelas dirigentes da Revista para a qual considerou-se o contexto político, econômico e social da época, o estado de evolução dos conhecimentos das ciências biomédicas que embasavam as práticas de enfermagem e os recursos tecnológicos e terapêuticos disponíveis. A teoria de Bahktin, por sua vez, possibilitou a apreenssão da ideologia contida nos discursos de enfermagem. Os dados indicam que a principal preocupação da política de identidade profissional explicitada nos A.E. visava ao reconhecimento social da enfermagem como profissão digna de ser exercida por jovens pertencentes à alta classe social e a distinção das enfermeiras das demais exercentes da profissão. A feminilidade, apoiada em religiosidade, patriotismo e obediência hierárquica foi o ponto central da política de identidade profissional. No entanto, ela não se constituiu em um pensamento monolítico, ao contrário,desenrolou-se na vivência das contradições e ambigüidades do feminino X masculino; pensamento cristão X pensamento eugênico; objetividade científica X subjetividade da enfermagem, arte e vocação; trabalho manual X trabalho intelectual; obediência hierárquica X liderança e iniciativa; nacionalismo exarcebado X dependência de um modelo estrangeiro e de enfermeiras americanas. A enfermeira deveria ser então, ao mesmo tempo, mulher e homem, general e soldado, santa ) (ou anjo) e prostituta, cientista, porém um pouco esotérica.
Taking Vygotsky's socicultural perspective and Ciampa's perspective of identity in metamorphosis as theoretical references, the author analyses the plitics of the professional identity of the nurse developed by the Brazilian Nursing Association (ABEn) from 1932 to 1941. The basis for the study consisted of the arcticles published in the official publication of the ABEn, the Anais de Enfermagem (A.E.) (Annals of Nursing), which later changed its name to the current Revista Brasileira de Enfermagem. Having in mind the perspective that meaning is culturally and historically constructed, these articles were examined with an eye for the meaning attributed to the nursing profession on the part of the journal's editors, taking into consideration the political, economic and social context of that time, the state of development of biomedical sciences which provided the bases for nursing practice, as well as the avaiable technological and therapeutic resources. Bahktin's theory was instrumental in that it allowed for the understanding of the ideology implicit in the discourse concerning nursing. The data indicate that the main concern of the politics of professinal identity manifested in the A.E. was to promote social recognition of nursing as a profession with a status fit to upper socioeconomic class young women, as well as to distinguish the role and identity of the nurse from other hospital workers. Feminity, supported by religiosity, patriotism andhierarchical obedience, was a central point in the politics of professional identity. Nevertheless, it was not a fixed, unquestioned concept, but rather one that played a part in the dynamics of contradictions and ambiguities of feminine vs. masculine, Christian vs. eugenic thinking, scientific objectivity vs. the subjectivity of the art and vocation of nursing, manual vs. intellectual labor, hierarchical obedience vs. leadershipness and initiative, exaggerated nationalism vs. dependence on a foreign model and American nurses. The nurse was thus supposed to be, at one and the same time, woman and man, general and soldier, saint (or angel) and prostitute, a scientist who was in part a mystic