A morte em seu mostrar-se ao paciente oncológico em situação de metástase

Publication year: 2005

O novo milênio traz consigo uma nova realidade para o Brasil:

o envelhecimento da população e com ele, o aumento dos números de casos de doenças crônicas, entre elas o câncer. Minha proposta, neste estudo, foi compreender como os pacientes oncológicos, em tratamento quimioterápico, por ocorrência de metástase, vivenciam a possibilidade da morte. Habitei o mundo da oncologia, aproximando-me dos pacientes em sua dimensão existencial. Para tal, foram realizadas entrevistas com sete pessoas adultas que fazem acompanhamento em uma clínica de oncologia privada na cidade de Guarapuava-PR. Para análise dessas entrevistas, apropriei-me de algumas idéias do referencial filosófico de Martin Heidegger. Dessa análise, a morte emergiu de vários modos: implicitamente; como um fenômeno natural, vivido na impessoalidade, pela morte do outro ou "dos casos de morte"; ou ainda como fenômeno que permeia a existência. A incerteza quanto ao futuro emerge no confronto entre a possibilidade de morrer e a possibilidade de curar-se, mantendo-se, porém, a esperança de não ser mais um ser-doente. A cura é enfocada pelo paciente não somente na esfera biológica, mas também, na busca por uma melhor qualidade de vida, o que envolve um ressignificar o momento presente. A dor e o sofrimento são mantidos no passado enquanto o presente é refeito em um novo cotidiano que envolve o "mundo particular" da oncologia, um cotidiano que é ameaçado pelos limites e temores impostos pela doença. A temporalidade vivenciada está restrita principalmente à dimensão cronológica. A fé emerge significativamente nas falas como forma de amenizar o sentimento que sufoca o ser-aí. Considerando a condição ontológica de ser com o outro, a morte se mostrou, ao paciente com câncer, por meio de palavras, do falatório, de ações e do olhar do outro, principalmente familiar, que ao mesmo tempo acolhe e denuncia. Essas situações foram compreendidas como um modo inautêntico de cuidar. ...