A trajetória silenciosa de pessoas portadoras do HIV contada pela história oral

Publication year: 2004

O universo da AIDS repleto de símbolos e significados e de estruturas que são aceitas de forma indiscutível pelo coletivo social, como o estigma, o preconceito e a negação dificultam as pessoas que se conhecem soropositivas a darem visibilidade a sua condição sorológica, pelo medo de se expor e de serem descobertas e terem de padecer por vergonhas e acusações. Esta investigação tem como referencial metodológico a História Oral temática e visa analisar os motivos que dificultam as pessoas portadoras do HIV a procurar os serviços de saúde do SUS para acompanhamento de sua sorologia. A interpretação das falas possibilita a construção social da AIDS bem como o estigma. Para tanto, foram realizadas entrevistas com cinco pessoas soropositivas que conheciam a sua sorologia há mais de um ano e que não haviam ingressado nos serviços de saúde do SUS para acompanhar a infecção pelo HIV. A análise do material permitiu a identificação do diagnóstico como um momento difícil, uma vez que estabelece mudanças drásticas que provocam rupturas e conflitos, principalmente ao se tratar de uma doença estigmatizante. Constatei que os motivos que interferem na procura aos serviços de saúde referidos pelos colaboradores, têm sua gênese e se explicam no modo como se deu o processo de simbolização da AIDS a fim de decifrá-la e como foi significada, dando-lhe um sentido profundamente depreciativo, ancorando-a no imaginário do mal, das pestes, do sexo e da morte. O que justifica a não revelação da sorologia ao público e, aqueles que não portam os estigmas denunciados conseguem encobrir as marcas estigmatizantes para que não venham a serem conhecidas pelos ‘normais’ e se manterem na posição de desacreditáveis. As atitudes de negação, isolamento e ocultação da doença surgem como forma de se proteger e evitar a ‘execração pública’, que se traduz como respostas provocadas pelo estigma.
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