A prática em saúde mental do modelo manicomial ao psicossocial: história contada por profissionais de enfermagem

Publication year: 2011

Pesquisa realizada com objetivo de apreender como os profissionais de enfermagem vivenciam a prática em saúde mental do modelo manicomial ao psicossocial enfocado pela reforma psiquiátrica. Trata-se de um estudo de história oral temática, desenvolvido de 2009 a 2010, em um hospital psiquiátrico público, da região metropolitana de Curitiba.

Participaram seis profissionais de enfermagem:

dois enfermeiros e quatro auxiliares de enfermagem. As narrativas foram obtidas por meio de entrevista semiestruturada, analisadas e organizadas em categorias temáticas: 1) O ingresso de profissionais de enfermagem no modelo hospitalocêntrico; 2) A admissão do portador de transtorno mental e a precariedade das condições dos hospitais psiquiátricos; 3) A assistência e a prática da enfermagem no modelo hospitalocêntrico; 4) O comportamento do portador de transtorno mental e a precária terapêutica recebida no modelo hospitalocêntrico; e 5) Desconstruindo a lógica manicomial: potencialidades, limitações e desafios da reforma psiquiátrica. Os colaboradores narraram que, até meados de 1970, a assistência em saúde mental apresentava condições precárias, como falta de qualificação dos profissionais nos hospitais psiquiátricos, roblema de superlotação desses ambientes, isolamento estabelecido como a única modalidade de tratamento, deficiência na infraestrutura das instituições e uso de terapêuticas incipientes, que, por vezes, eram utilizadas de forma desumana e coercitiva. Todavia, referiram que, nas últimas décadas, ocorreram mudanças no atendimento ao portador de transtorno mental, trazendo benefícios que envolveram qualificação e maior quantidade e tipos de categorias dos trabalhadores, redução do número de pessoas internadas nos hospitais psiquiátricos, uma nova percepção sobre o transtorno mental e seu portador, um novo modo de se elacionar com os pacientes e modalidades terapêuticas que visam à ruptura com o modelo hospitalocêntrico com técnicas desumanas, viabilizando a humanização, a reinserção social, a autonomia e o exercício da cidadania. Apesar de manifestarem a existência de mudanças que rompem com saberes e práticas cristalizadas no contexto manicomial, os colaboradores evidenciaram lacunas para a efetivação da reforma psiquiátrica. Há um número insuficiente de serviços extra-hospitalares, faltam recursos humanos em quantidade e qualidade necessários e, em um passado muito recente, o portador de transtorno mental tem sofrido a esassistência e maus tratos. Diante dessas fragilidades, ressalta-se a necessidade de os gestores atuarem no sentido de disponibilizar número adequado de vagas em dispositivos de tratamento xtra- hospitalares, com os cuidados apropriados a todos os usuários, capacitação de recursos, bem como o preparo e cuidado da comunidade e da família para a inserção do portador de transtorno mental na sociedade.
Study performed aiming to understand how nursing professionals experience the practice of manicomial to psychosocial model mental health as highlighted by psychiatric reform. It is a thematic oral history study, developed from 2009 to 2010, at a public psychiatric hospital, in Curitiba's metropolitan area.

It was performed with six nursing professionals:

two nurses and four assistant nurses. Narratives were collected by means of semi-structured interview, analyzed and organized in thematic categories: 1) Entry of the nursing professionals in hospital-centered model; 2) Admission of mental disorder patient and precariousness of conditions in psychiatric hospitals; 3) Nursing assistance and practice in hospital-centered model; 4) Behavior of mental disorder patient and precarious therapeutics given in hospital-centered model; and 5) Deconstructing manicomial logic: potentialities, limitations and challenges of psychiatric reform. Contributors has told that, up to 1970, mental health assistance presented precarious conditions as lack of professional qualification in psychiatric hospitals, overcrowding, isolation established as the sole type of treatment, lack of infra-structure in the institutions and use of incipient therapeutics, which, sometimes, were used fiercely and forcibly. However, they told that in the last decades there was changes in mental disorder patient service, bringing benefits including qualification and a larger number and categories range of professionals, decreased number of persons interned at psychiatric hospitals, a new understanding on mental disorder and patients, a new way to establish a relation with the patients and therapeutic methods aiming to break with the hospital-centered model and its fierce techniques, making humanization, social reintegration, autonomy and exercise of citizenship viable. Regardless presenting the existence of changes reaking with the established knowledge and practice in manicomial context, the contributors pointed out gaps for putting the psychiatric reform in effect. There is insufficient number of extra-hospital services, there is a lack of human resources as for the number and the quality needed, and, in a very recent past, the mental disorder patient has been experimenting non assistance and ill-treatment. Taking those weakness on account, the need for managers acting towards making an appropriate number of positions available in extra-hospital treatment facilities, with appropriate care for all the users, provision of resources, as well as reparation and care of the community and family for the integration of the mental disorder patient in the society.