Representações sociais da depressão construídas por idosos e suas relações com a capacidade funcional
Publication year: 2017
Pesquisas atuais indicam que a cada ano, cerca de 650 mil de pessoas com mais de 60 anos ingressam na sociedade brasileira, sendo a maior parte com doenças crônicas e limitações funcionais. Entre as patologias crônicas, destaca-se a depressão, elevando ainda mais o ciclo de fragilidade e de deterioração progressiva da capacidade funcional. Diante do exposto, o presente estudo tem por objetivos verificar as representações sociais construídas por idosos sobre a depressão na velhice e suas relações com a capacidade funcional, bem como investigar a associação entre os sintomas depressivos e a capacidade funcional. Trata-se, portanto, de um estudo exploratório, de abordagem mista, e de base de dados secundária, que incluiu 234 pessoas com mais de 60 anos, de ambos os sexos, assistidos pelas equipes de saúde da Estratégia Saúde da Família Grotão I, II e III, e a Comunidade Maria de Nazaré, no município de João Pessoa, Paraíba, Brasil. Os dados foram coletados nas respectivas unidades de saúde, através de uma entrevista semiestruturada, composta por três partes, sendo a primeira o Teste de Associação Livre de Palavras (TALP), com o termo indutor ; seguida pela caracterização sociodemográfica; a última parte foi contemplada pela Escala de Depressão Geriátrica (GDS-15) e análise do desempenho funcional, por meio do Índice de Katz e da Escala de Lawton e Brody. Os dados coletados foram processados pelos softwares SPSS versão 21.0 e IRaMuTeQ e, posteriormente interpretados de acordo com o aporte teórico das Representações Sociais. Verificou-se que 38% (n=88) dos idosos participantes apresentaram sintomas sugestivos de depressão, com prevalência entre as mulheres, na faixa etária entre 60 a 69 anos. Foi possível observar que uma significativa parcela da população (43,6%) se identifica como pessoas independentes e sem sintomas de depressão, embora, 13,7% se classificam como sendo independentes pelo índice de Katz e dependentes parcialmente pela escala de Lawton. Cabe destacar que, 9,83% dos participantes que apresentavam sintomas depressivos já demonstravam também perdas funcionais para atividades mais complexas, que requerem habilidades cognitivas e motoras associadas, como se observa nas Atividades Instrumentais de Vida Diária. A análise do corpus textual referente à representações sociais da depressão resultou na formação de quatro classes semânticas, com aproveitamento de 77,68%, apresentadas pela Classificação Hierárquica Descendente (CHD): classe 1 - Sentidos e experiências associadas à depressão; classe 2 - Aspectos relacionados à depressão; classe 3 - Aspectos clínicos da depressão; classe 4 - Dimensões psicoafetivas da depressão. Os idosos considerados funcionalmente dependentes representam a depressão como um processo patológico grave de repercussão psicoafetiva, que necessita de assistência clínica e medicamentosa, mas que o cuidado se torna mais ampliado e efetivo com a presença da família e de amigos. Os dados do presente estudo correlacionam-se entre si, e indicam que a presença dos sintomas depressivos está associada significativamente ao declínio progressivo das Atividades Instrumentais de Vida Diária, assim como, com a perda progressiva do desempenho cognitivo, sugerindo atualizações aos profissionais de saúde através das práticas e dos norteamentos direcionados aos idosos, com e sem sintomas depressivos. (AU)
Current researches indicate that, every year, around 650,000 people over 60 are entering Brazilian society, most of them with chronic diseases and functional limitations. Among the chronic pathologies, depression stands out, further increasing the cycle of fragility and progressive deterioration of functional capacity. Therefore, the present study aims to verify the social representations built by the elders on depression in old age and its relation with functional capacity, as well as to investigate the association between depressive symptoms and functional capacity. This is an exploratory study, with mixed approach, and secondary database, which included 234 people over 60 years old, of both sexes, assisted by the health teams of the Family Health Strategy Grotão I, II and III, and the Maria de Nazaré Community, in the municipality of João Pessoa, Paraíba, Brazil. The data were collected in the respective health units, through a semi-structured interview, composed by three parts, the first being the Free Word Association Test (TALP), with the inductor term ; followed by sociodemographic characterization; the last part was contemplated by the Geriatric Depression Scale (GDS-15) and functional performance analysis, using the Katz Index and the Lawton and Brody Scale. The data collected were processed by the software SPSS version 21.0 and IRaMuTeQ and later interpreted according to the theoretical contribution of the Social Representations. The results show that 38% (n=88) of the elderly participants presented symptoms suggestive of depression, prevalent among women, in the age group between 60 and 69 years. Moreover, a significant portion of the population (43.6%) were identified as independent persons with no symptoms of depression, although 13.7% self-classified as independent by the Katz index and partially dependent on the Lawton scale. Furthermore, 9.83% of participants with depressive symptoms already showed functional losses for more complex activities, which require associated cognitive and motor skills, as observed in the Instrumental Activities of Daily Living. The analysis of the textual corpus referring to the social representations of depression resulted in the formation of four semantic classes, with use of 77.68%, presented by the Descending Hierarchical Classification (CHD): class 1 - Senses and experiences associated with depression; Class 2 - Aspects related to depression; Class 3 - Clinical aspects of depression; Class 4 - Psychoaffective dimensions of depression. The elders considered functionally dependent represent depression as a serious pathological process of psychoaffective repercussion, which requires clinical and medication assistance, but that care becomes more extended and effective with the presence of family and friends. Data from the present study correlate with each other, and indicate that the presence of depressive symptoms is significantly associated with the progressive decline of Instrumental Activities of Daily Living, as well as with the progressive loss of cognitive performance, suggesting updates to health professionals through practices and orientations directed to the elders, with and without depressive symptoms. (AU)