As doenças negligenciadas e suas representações sociais: um estudo com profissionais de saúde
Publication year: 2019
As doenças negligenciadas são caracterizadas por um grupo de enfermidades
infecciosas que atingem principalmente a população de baixa renda nos países em
desenvolvimento, com poucos investimentos em pesquisa e tecnologia para avançar no
controle, na prevenção e tratamento medicamentoso. São assim denominadas também pelo
fato de não despertarem o interesse econômico e financeiro das grandes indústrias
farmacêuticas proporcionando a continuidade do ciclo da pobreza e diminuição da qualidade
de vida das pessoas. O objetivo geral foi analisar as representações sociais acerca das doenças
negligenciadas para os profissionais de saúde com ênfase nas dimensões conceitual e prática
destas representações. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, com sustentação na
Teoria das Representações Sociais, em suas abordagens processual e estrutural, realizada com
90 profissionais de saúde que atuam em instituições de atenção primária e secundária à saúde,
no município de Jequié/BA. A pesquisa aconteceu em três fases distintas, a saber: na primeira
fase aplicou-se a técnica de evocações livres, com uso do termo indutor: doenças
negligenciadas, sendo analisadas pela técnica do quadrante de quatro casas, com auxílio do
EVOC, versão 2005; na segunda etapa, retornou-se ao campo de pesquisa, para aplicar ao um
total de 27 participantes do mesmo grupo anterior, os instrumentos de testes de centralidade: a
constituição de pares pareados e os esquemas cognitivos de base. Foram analisados pela
análise de similitude e pelos índices de valência, respectivamente. Na terceira fase aplicou-se
o instrumento da entrevista em profundidade, para 27 profissionais de saúde, sendo analisados
com auxílio do IRAMUTEQ através da análise lexical mecanizada. Na análise estrutural,
identificou-se o núcleo central, com os elementos descaso e ignorância, que organizaram as
representações sociais dos profissionais de saúde em um contínuo que foi da dimensão
individual à político-social, perpassando pelas dimensões socioindividual e imagética. Com
relação ao conteúdo, no âmbito da abordagem processual, encontrou-se um corpus geral
constituído por 27 entrevistas, separados em 1.076 segmentos de textos (ST) com
aproveitamento de 1.043 STs (96,93 %). Emergiram 38.421 ocorrências (palavras, formas ou
vocábulos), sendo 2.349 palavras distintas e 978 com uma única ocorrência. O conteúdo
analisado foi categorizado em 07 classes distintas que evidenciaram as dimensões teórica e
prática das representações sociais. As representações sociais dos profissionais de saúde sobre
as doenças negligenciadas possuem uma atitude normativa, apesar de conviverem
cotidianamente em seu ambiente de trabalho com estas enfermidades. Isto implicou na
construção de julgamentos com elementos negativos, por parte dos profissionais de saúde,
sobre as condutas e práticas dos sujeitos que compõem a tríade (indivíduo, equipe de saúde e
gestores) no enfrentamento das doenças negligenciadas. Conclui-se que, as representações
sociais dos profissionais de saúde acerca das doenças negligenciadas gerenciam e influenciam
suas práticas de cuidado, modificando a realidade que os cerca e protagonizando novos
saberes e conhecimentos indispensáveis para o controle, a prevenção e o tratamento destas
entidades mórbidas.
Neglected diseases are characterized by a group of infectious diseases that mainly
affect low-income people in developing countries, with little investment in research and
technology to enhance their control, prevention and drug treatment. Their denomination is due
to the fact that they do not arouse the economic and financial interest of the big
pharmaceutical industries, maintaining the continuity of the poverty cycle and diminishing the
quality of life of the people. Our general objective was to analyze the social representations
about neglected diseases in health professionals, with emphasis on the conceptual and
practical dimensions of these representations. It is a research of a qualitative nature, supported
by the Theory of Social Representations, in its procedural and structural approaches, carried
out with 90 health professionals who work in primary and secondary health care institutions,
in the municipality of Jequié, Bahia, Brazil.
The research was carried out in three distinct phases:
in the first stage we used the technique of free evocations, with the inductor term: neglected diseases, being analyzed by the four quadrants technique, with the help of EVOC, 2005 version; in the second stage, we returned to the field of research, to apply to a total of 27 participants of the same previous group the instruments of the centrality tests: the constitution of matched pairs and the basic cognitive schemes. They were analyzed by the similitude analysis and by the valence indices, respectively. In the third phase, we applied the instrument of the in-depth interview to 27 health professionals, being analyzed with the help of IRAMUTEQ through the mechanized lexical analysis. In the structural analysis, the central nucleus was identified, with the elements neglect and ignorance, which organized the social representations of health professionals in a continuum that went from the individual to the social-political dimension, spanning the social-individual and imagery dimensions. Regarding the content, in the scope of the procedural approach, a general corpus was composed of 27 interviews, separated into 1,076 text segments (TS) from which 1,043 TS (96.93%) were used. 38,421 occurrences (words, forms or terms) emerged, being 2,349 distinct words and 978 with a single occurrence. The analyzed content was categorized into 07 distinct classes that showed the theoretical and practical dimensions of social representations. The social representations of the health professionals on neglected diseases show that they have a normative attitude, although they interact daily with these diseases in their work environment. This implied the construction of judgments with negative elements, by the health professionals, about the behaviors and practices of the subjects that make up the triad (individual, health team and managers) in coping with neglected diseases. It is concluded that the social representations of the health professionals on neglected diseases manage and influence their care practices, modifying the reality that surrounds them and playing a leading role in new and indispensable knowledge for the control, prevention and treatment of these morbid entities.
Las enfermedades descuidadas son caracterizadas por un grupo de enfermedades
infecciosas que afectan principalmente a la populación de baja renta en los países en
desarrollo, con pocas inversiones en investigación y tecnología para avanzar en el control, en
la prevención y tratamiento medicamentoso. Son así denominadas también por el hecho de no
despertar el interés económico y financiero de las grandes industrias farmacéuticas
proporcionando la continuidad del ciclo de pobreza y la disminución de la calidad de vida de
las personas. El objetivo general fue analizar las representaciones sociales acerca de las
enfermedades descuidadas para los profesionales de la salud con énfasis en las dimensiones
conceptual y práctica de estas representaciones. Se trata de una investigación de naturaleza
cualitativa, sustentada en la Teoría de las Representaciones Sociales, en sus abordajes
procesual y estructural, realizada con 90 profesionales de la salud que actúan en instituciones
de atención primaria y secundaria a la salud, en el municipio de Jequié, Bahia, Brasil. La
investigación aconteció en tres fases distintas, a saber: en la primera fase se aplicó la técnica
de evocaciones libres, con uso del término inductor: enfermedades descuidadas, siendo
analizadas por la técnica del cuadrante de cuatro casas, con auxilio del EVOC, versión 2005;
en la segunda etapa, se retornó al campo de investigación, para aplicar a un total de 27
participantes del mismo grupo anterior los instrumentos de pruebas de centralidad: la
constitución de pares pareados y los esquemas cognitivos de base. Fueron analizados por el
análisis de similitud y por los índices de valencia, respectivamente. En la tercera fase, se
aplicó el instrumento de la entrevista en profundidad, para 27 profesionales de la salud, siendo
analizado con auxilio del IRAMUTEQ a través del análisis lexical mecanizado. En el análisis
estructural, se identificó el núcleo central, con los elementos descaso e ignorancia, que
organizaron las representaciones sociales de los profesionales de la salud en un continuo que
fue de la dimensión individual a la político-social, pasando por las dimensiones socio
individual e imagética. Con relación al contenido, en el ámbito del abordaje procesual, se
encontró un corpus general constituido por 27 entrevistas, separadas en 1.076 segmentos de
textos (ST) con aprovechamiento de 1.043 STs (96,93 %). Emergieron 38.421 ocurrencias
(palabras, formas o vocablos), siendo 2.349 palabras distintas y 978 con una única ocurrencia.
El contenido analizado fue categorizado en 07 clases distintas que evidenciaron las
dimensiones teórica y práctica de las representaciones sociales. Las representaciones sociales
de los profesionales de la salud sobre las enfermedades descuidadas tienen una actitud
normativa, a pesar de convivir cotidianamente en su ambiente de trabajo con estas
enfermedades. Esto implicó la construcción de juicios con elementos negativos, por parte de
los profesionales de la salud, sobre las conductas y prácticas de los sujetos que componen la
tríade (individuo, equipo de salud y gestores) en el enfrentamiento de las enfermedades
descuidadas. Se concluye que las representaciones sociales de los profesionales de la salud
acerca de las enfermedades descuidadas gerencian e influencian sus prácticas de cuidado,
modificando la realidad que los rodea y protagonizando nuevos saberes y conocimientos
indispensables para el control, la prevención y el tratamiento de esas entidades mórbidas.