Mulheres com câncer de mama em Belo Horizonte: perfil, trajetória e narrativas sobre o cuidado

Publication year: 2017

Introdução:

O câncer é o arquétipo da impotência humana diante da morte. O câncer de mama é o mais comum entre as mulheres e a primeira causa de morte por câncer em mulheres brasileiras com 28.828 óbitos em 2014 e incidência estimada em 56,2/100.000 mulheres em 2016. A elevada mortalidade é atribuída ao atraso no diagnóstico e tratamento.

Objetivos:

Conhecer o perfil e trajetória de atenção ao câncer de mama feminino em Belo Horizonte, da prevenção ao tratamento.

Métodos:

Ensaio teórico sobre a história social e política do cuidado em saúde da mulher e contradições percebidas nas políticas públicas; Estudo transversal com dados de base hospitalar com objetivo de delinear e descrever perfis de mulheres em tratamento do câncer de mama em unidades públicas e privadas de Belo Horizonte no período de 2010 a 2013 e verificar associação com intervalos entre o diagnóstico e o tratamento, independentemente do estadiamento da doença; Análise interpretativa de narrativas de mulheres de Belo Horizonte, de diferentes perfis sociodemográficos, sobre a atenção ao câncer de mama, do preventivo ao tratamento.

Resultados:

Mulheres que mais precisam dos serviços públicos de saúde (SUS) são as que encontram maiores dificuldades no atendimento (artigo 1); Cinco perfis foram identificados: A (raça/cor branca, escolaridade >15 anos, tratamento rede privada); B (raça/cor branca; escolaridade: 11 anos completo, tratamento SUS); C e D (raça/cor parda; escolaridade: 11 anos completos e < 8 anos respectivamente; tratamento SUS); E (raça/cor preta, escolaridade < 8 anos, tratamento SUS). Os perfis B, C, D e E foram associados a maiores intervalos entre diagnóstico/tratamento, independentemente do estágio do câncer no diagnóstico, sendo que E apresentou chance 37 vezes maior de intervalo > 91 dias (OR: 37,26; IC95%:11,91-116,56). Mesmo após vencer as barreiras de acesso, as mulheres com perfis de vulnerabilidade social apresentaram maior espera para o início do tratamento (artigo 2). Narrativas evidenciaram que diferenças na atenção ao câncer de mama entre mulheres de diferentes perfis relacionam-se à desigualdades sociais que resultam em prejuízos às mulheres de maior vulnerabilidade, tais como: relações assimétricas com profissionais e serviços de saúde;atendimento negligente e discriminatório às usuárias do SUS na rede credenciada; privações no decurso do tratamento; vínculos precários de trabalho prejudicando a busca de cuidados preventivos e provocando insegurança depois do tratamento (artigo 3).

Conclusão:

Há evidências que desigualdades sociais relacionam-se a desigualdades ocorridas na atenção ao câncer de mama em Belo Horizonte com prejuízo às mulheres com características de vulnerabilidade social. Estudos sobre o tema devem amparar formulação de políticas e estratégias que atendam as necessidades de cuidado de mulheres de diferentes grupos sociais, desde a prevenção até o pós-tratamento do câncer de mama, de forma que desigualdades sociais não resultem em desigualdades de atenção.

Introduction:

Cancer is the archetype of human impotence before death. Breast cancer is the most common among women and the leading cause of cancer death in Brazilian women with 28,828 deaths in 2014 and incidence of 2016 estimated in 56.2 / 100,000 women. High mortality is attributed to delayed diagnosis and treatment.

Objectives:

To know the profile and trajectory of attention to female breast cancer in Belo Horizonte, from prevention to treatment.

Methods:

Theoretical essay on social and political history of women's health care and perceived contradictions; Cross-sectional study with hospital-based data through cluster analysis to delineate, describe and analyze profiles of women in the treatment of breast cancer in public and private units in Belo Horizonte from 2010 to 2013 and verify association with intervals between diagnosis and treatment Regardless of staging of the disease; Interpretative analysis of narratives of women from Belo Horizonte, different sociodemographic profiles, attention to breast cancer, from preventive to treatment.

Results:

Women who need the most public health services (SUS) are the ones that find the greatest difficulties in care (article 1); Five profiles were identified: A (white color, schooling> 15 years, private network treatment); B (white color, schooling = 11 years, SUS treatment); C and D (brown color, schooling = 11 years and <8 years respectively, SUS treatment); E (black color, schooling <8 years, SUS treatment). The B, C, D and E profiles were associated with longer diagnostic / treatment intervals regardless of the stage of the cancer at diagnosis, and E presented a 37 greater chance of> 91 days (OR: 37.26, 95% CI: 11, 91-116,56). Even after overcoming access barriers, women with social vulnerability profiles were more likely to wait for treatment (Article 2). Narratives have shown that differences in breast cancer care among women of different profiles are related to social inequalities that result in damages to women of greater vulnerability, such as: asymmetrical relationships with professionals and health services; negligent and discriminatory care to SUS users in the accredited network; Deprivations in the course of treatment; Precarious work links, hindering the search for preventive care and provoking insecurity after treatment (Article 3).

Conclusion:

There is evidence that social inequalities are related to inequalities occurring in breast cancer care in Belo Horizonte, affecting women with characteristics of social vulnerability. Studies on the subject should support the formulation of policies and strategies that address the care needs of women from different social groups, from prevention to post-treatment of breast cancer, so that social inequalities do not result in inequalities of attention.