O sentido de ser-pessoa-idosa vivendo em instituição de longa permanência à luz da fenomenologia Heideggeriana
Meanings of religiosity and spirituality in the lived experience of the long-lived elderly person
El sentido de ser-persona-anciana viviendo en una institución de larga permanencia a la luz de la fenomenología heideggeriana
Publication year: 2018
Nos últimos anos, projeções demográficas apontam para o crescimento acelerado do número
de pessoas com 60 anos de idade ou mais no mundo e no Brasil. Paralelo a esse fenômeno,
transformações socioculturais têm impactado as modalidades de cuidado ofertadas à pessoa
idosa, sendo crescente o número destas encaminhadas para Instituições de Longa
Permanência para Idosos (ILPIs). Este cenário impõe o desafio de compreender as pessoas
idosas institucionalizadas em suas dimensões existenciais e de subjetividade. Trata-se de um
estudo fenomenológico pautado na fenomenologia de Martin Heidegger e que objetivou
desvelar o sentido de ser-pessoa-idosa vivendo em Instituição de Longa-Permanência para
Idosos. Para a produção das informações foram realizadas 12 entrevistas fenomenológicas
com pessoas idosas que vivem em uma ILPI no interior da Bahia, Brasil, de ambos os sexos,
que moram na instituição há, pelo menos, quatro meses e que demonstraram condição
cognitiva preservada para participar do estudo. As entrevistas foram realizadas no período de
março de 2017 a agosto de 2018. A apreensão dos aspectos ônticos – a partir da compreensão
vaga e mediana das vivências compartilhadas - possibilitou a construção de seis unidades de
significado. A pessoa idosa que reside em ILPI mostrou-se como pessoa que: I. Vivencia a
perda progressiva de autonomia e independência; II. Percebe a ida para a ILPI como trajetória
circunstancial inevitável; III. O ser-com torna-se ser-só/ser-solitário; IV. Ex-siste imersa
numa rotina vazia; V. Apega-se à religiosidade/espiritualidade como estratégia de resiliência e
conforto; VI. Experiencia a ressignificação de percepções diversas. Após as etapas de
apreensão dos aspectos ônticos, procedeu-se com a compreensão hermenêutica e a construção
da unidade de significação: o sentido de ser-pessoa-idosa vivendo em instituição de longa
permanência. Foi possível compreender que parte da facticidade do ser-aí lançado no mundo
vivida pelo ser-pessoa-idosa é resultado de processos instituídos pela ILPI. Passíveis,
portanto, de ajustes e redefinições. Conclui-se que, atualmente, a assistência em saúde à
pessoa idosa que vive em ILPI centra-se no atendimento das necessidades fisiológicas do ente
idoso, restringindo-se à instância ôntica. As necessidades ontológicas, as quais atentam para
as particularidades do ser-pessoa-idosa que vive em ILPI seguem esquecidas. Uma vez que
somos ôntico e ontológico, o cuidado limitado à instância ôntica sinaliza deficiências do
processo de institucionalização. Assim, urge a necessidade de melhorias no cuidado que
considerem o ente e incluam a busca continuada pela compreensão do ser-pessoa-idosa que
vive em ILPI em suas diferentes e peculiares facetas do existir. Esse exercício é fundamental
para garantir às pessoas idosas institucionalizadas o direito de envelhecer com dignidade e
qualidade de vida.(AU)