Marcadores de gênero na experiência de mulheres com abortamento induzido: construção de instrumento para o cuidado
Gender markers in the experience of women with induced abortion: construction of an instrument for healthcare
Publication year: 2018
O aborto representa um problema de saúde pública e, sobretudo, nos países em que é clandestino, mulheres são expostas a riscos à saúde. O reconhecimento de desigualdades de gênero, na experiência das mulheres, é condição essencial para os serviços darem respostas às demandas por cuidado na rede de saúde. No sentido de oferecer ao sistema de saúde subsídios para incorporação da perspectiva de gênero às práticas, foi desenvolvida pesquisa cujos objetivos foram sintetizar as evidências qualitativas sobre a experiência de mulheres submetidas a abortamento induzido, resultante de gravidez não planejada; identificar elementos de gênero na experiência de mulheres submetidas ao abortamento induzido resultante de gravidez não planejada; construir instrumento para o cuidado à saúde das mulheres com história de abortamento, a partir de marcadores qualitativos de gênero resultantes de revisão sistemática. Caracteriza-se como estudo de desenvolvimento metodológico, com abordagem qualitativa, e compreendeu três etapas. A primeira consistiu na realização de uma revisão sistemática da literatura científica baseada na proposta do Joanna Briggs Institute (JBI), sobre as experiências de mulheres submetidas ao abortamento induzido, resultante de gravidez não planejada. A segunda etapa consistiu em reunir os elementos de gênero presentes nos resultados dos estudos empíricos por convergência de temas, construindo-se categorias e a partir dessas os marcadores de gênero para a saúde da mulher com história de abortamento. A terceira correspondeu à construção do instrumento baseado nos elementos de gênero identificados. Os aspectos éticos foram respeitados em todas as etapas da pesquisa. A revisão sistemática foi realizada a partir de 42 estudos primários dos quais foram extraídos 200 findings agrupados por congruência em 51 categorias que, por convergência temática, resultaram em 15 metassínteses. Aplicando a categoria gênero e reorganizando as categorias, foram elaborados oito marcadores, compostos por 64 elementos de gênero presentes na experiência de mulheres que abortaram:1) Responsabilização da mulher pela contracepção e pela ocorrência da gravidez e vulnerabilidades; 2) Participação do parceiro e da família no processo de decisão da mulher pelo aborto ; 3) Dificuldades financeiras como razão para o aborto; 4) Participação de amigas/os, no processo de decisão da mulher pelo aborto; 5) Aborto por decisão pessoal; 6) Sentimentos vivenciados pelas mulheres pós-aborto; 7) Atendimento profissional de saúde no processo de abortamento e 8) Adoção de posição política pela descriminalização do aborto. Esses marcadores e elementos foram organizados, e foram construídas perguntas que compuseram o instrumento. Considera-se que, para a incorporação da perspectiva de gênero às práticas e a consequente implementação do instrumento construído, são necessárias a validação do mesmo e a educação permanente junto à equipe profissional, como também desde a graduação, em especial da enfermagem por seu lugar no espaço dos cuidados em qualquer nível de atenção, voltado à integralidade do cuidado e alinhada às relações de gênero, temáticas que constituem eixos da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Mulheres.(AU)