Demandas de saúde de adolescentes: construindo bases para o cuidado
Publication year: 2016
A demanda por cuidado à saúde pode ser entendida como o bem ou ação que a pessoa deseja
receber do serviço de saúde. Na atenção a adolescentes vem sendo priorizadas aquelas
consideradas problemas de saúde pública para as quais o Estado não conseguiu implementar
ações efetivas. Assim, visando oferecer bases para implementação do cuidado em consonância
com o que é valorizado por adolescentes e para avaliação de políticas públicas, esta pesquisa
tem como objetivos: Conhecer demandas de cuidado à saúde oriundas da realidade
problematizada por adolescentes de ambos os sexos e analisar as demandas para o cuidado de
adolescentes sob o enfoque da integralidade. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem
qualitativa realizado com 21 adolescentes de ambos os sexos, com idade entre 16 e 19 anos,
estudantes de duas escolas públicas de um município do interior baiano. Foram utilizadas as
técnicas de oficinas e questionário para produzir os dados empíricos e para análise a técnica
de análise de discurso. Foram respeitados os preceitos éticos contidos na Resolução Nº 466/12
do Conselho Nacional de Saúde. Os resultados revelaram que adolescentes valorizam a
indissociabilidade entre corpo e mente, reconhecem que há carência de atenção à saúde
mental e apontam transtornos psíquicos como resultantes de contextos de vida e de falta de
atenção à saúde. Consideram a sexualidade como uma dimensão humana que demanda
atenção na relação direta com a saúde sexual, com necessidade de orientações preventivas,
com acompanhamento ginecológico, conhecimento das alterações biológicas do corpo, sexo
com proteção às IST/HIV e gravidez não planejada. Percebe a sexualidade como um processo
afetivo-sexual com prazer compartilhado, desmistificando o homem como ativo e a mulher
como passiva. Valorizam a alimentação saudável como valor a ser incorporado; atividade
física como geradora de prazer e bem-estar, distanciando-se do corpo como objeto de
consumo; e uso e abuso de drogas como espaço de vulnerabilidade de adolescentes, todos
demandantes de cuidados. Por fim, sustentam sua visão de saúde na promoção, na proteção da
saúde e na necessidade de orientação livre de tabus e preconceitos. Suas demandas
apresentam convergência parcial com o que vem sendo proposto nas políticas públicas,
acrescidas do que lhes faz singular pela escuta da voz de quem as vivencia. Pela análise dos
discursos verifica-se que há um vazio na interação profissionais da saúde com profissionais da
educação e com a família para ações educativas por meio de diálogo efetivo. Nesse sentido, os
serviços de saúde necessitam melhor se estruturar para atrair adolescentes, reconhecer
singularidades e construir com o grupo condições para o atendimento de necessidades e
demandas e reduzir vulnerabilidades dessa fase, por meio de profissionais capacitadas/os para
o acolhimento e a responsabilização, buscando-se a integralidade do cuidado.(AU)