Expansão dos cursos de graduação em enfermagem e dos serviços de saúde da Bahia e suas implicações para a formação de enfermeiras
Publication year: 2016
Esta tese analisou a expansão dos cursos de graduação em enfermagem e os serviços de saúde
da Bahia e suas implicações para formação das enfermeiras. Trata-se de um estudo de métodos
mistos, combinando elementos de abordagens qualitativa e quantitativa, ancorados nos
pressupostos do Materialismo Histórico Dialético. Foram utilizados como cenários de
investigação 13 cursos de graduação em enfermagem localizados na cidade de Salvador, bem
como 04 hospitais gerais que se constituem enquanto cenários de aprendizagem para as IES
coparticipantes da pesquisa. Os sujeitos entrevistados foram docentes, discentes e enfermeiras.
Os dados quantitativos foram coletados a partir de dados fornecidos pelo Ministério da
Educação, como também pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia. A análise dos dados
buscou triangular os achados nas etapas qualitativa e quantitativa, a fim de conseguir maior
amplitude na descrição e compreensão do objeto de estudo. A análise dos dados quantitativos
e qualitativos revelou uma desarmonia entre o número de cursos de graduação em enfermagem
e a capacidade instalada de serviços de saúde, que traz as seguintes implicações para a formação
das enfermeiras: excesso de alunas nos cenários de aprendizagem, comprometendo as
oportunidades de ensino/aprendizagem; dificuldade de inserção das estudantes nos cenários de
aprendizagem devido à escassez de serviços de saúde qualificados para receber as estudantes;
dificuldade nas relações interpessoais entre docentes, discentes e preceptoras nos espaços de
práticas em saúde agravadas pelo contingente de alunas nos serviços e as condições de trabalho
impostas às profissionais; mudanças no projeto pedagógico dos curso no que tange o
desenvolvimento de atividades práticas. As implicações destacadas revelam as contradições
que envolvem a expansão dos cursos, atendo às diretrizes do neoliberalismo, e o contexto dos
serviços de saúde, sobretudo os serviços públicos, que caminham na contramão do modelo
hegemônico de produção de cuidados. Estas implicações convergem, portanto, para a qualidade
do processo formativo em enfermagem e esta é, portanto, a principal implicação para a
formação das enfermeiras baianas, pensando numa formação crítica, reflexiva e comprometida
com a práxis social. A transformação da realidade do processo de formação das enfermeiras
baianas requer a superação dessas contradições. No entanto, a superação dessas contradições
requer a formação de enfermeiras capazes de pensar nessa transformação. É importante destacar
que as implicações reveladas são resultado de múltiplos determinantes que incluem a expansão
dos cursos e o cenário de dificuldades dos serviços de saúde, mas também o contexto histórico,
político, ideológico e social que fomenta esses determinantes. Se por um lado, existe uma força
que impulsiona a expansão dos cursos, transformando a educação superior em um mercado
cada vez mais atraente, inclusive para o capital externo; existe também uma força que reprime
a expansão dos serviços públicos de saúde (principais cenários de aprendizagem em
saúde/enfermagem) e fortalece o discurso do setor privado de cuidados a saúde. Essa
constatação implica na necessidade de recuperação da capacidade do poder público para
regular, avaliar e supervisionar adequadamente, tanto as IES quanto os serviços prestadores de
cuidados à saúde. (AU)