Representações sociais de mulheres submetidas à revascularização do miocárdio sobre seu corpo: repercussões para a sexualidade

Publication year: 2013

Estudo de caso descritivo e analítico, com abordagens qualitativa e quantitativa. Objetiva-se analisar as representações sociais de mulheres submetidas à revascularização do miocárdio sobre o seu corpo e as implicações na sexualidade, à luz da teoria das Representações Sociais, focada na abordagem psicossocial e na categoria analítica gênero. Participaram do estudo 25 mulheres submetidas a esta cirurgia, atendidas em um ambulatório de cardiologia geral de um hospital público da cidade de Salvador-Bahia, durante os anos de 2011-2012. Foram observados os aspectos éticos e legais dispostos na Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. A coleta de dados foi mediante duas técnicas projetivas, o Teste de Associação Livre de Palavras e o Desenho-Estória com Tema, e uma técnica discursiva, a entrevista semiestruturada. Para o tratamento dos dados do TALP foi utilizada a análise fatorial de correspondência por meio do software Tri-deux-mots 2.2, e os dados dos desenhos e entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo temática. Das mulheres pesquisadas, 72% tinham idade igual ou superior a 55 anos; 96% apresentaram manifestação coronariana antes da cirurgia; 68% tinham de 2 a 4 anos de tempo da realização cirúrgica; 68% eram casadas ou tinham relação estável; e 68% mantiveram a atividade sexual após o procedimento cirúrgico.

Da análise de conteúdo emergiram três categorias e subcategorias:

(1) Corpo melhorado, com duas subcategorias: Corpo vivo e Corpo em adaptação; (2) Corpo limitado e; (3) Corpo marcado, com a subcategoria Corpo solitário. A análise fatorial ofereceu uma leitura das variações semânticas na organização do campo espacial, sendo citadas 421 palavras pelas 25 mulheres, das quais 129 foram diferentes e demonstraram significância para as variáveis fixas: idade, tempo de cirurgia e vida sexual após a cirurgia. Os resultados do TALP evidenciaram que as participantes, independente da faixa etária, do tempo de experiência póscirúrgica, e de terem ou não atividade sexual após o procedimento, representam a intervenção cirúrgica como um marco em suas vidas, com repercussões negativas na sexualidade. As representações sobre o corpo após a cirurgia tentam dissimular o evidente sofrimento moral do estigma e o sentimento de anulação socioafetiva. A maioria das mulheres destacou que as cicatrizes no corpo causam danos emocionais e psicológicos. Conclui-se que as participantes, apesar de representarem seus corpos como fisicamente melhorados, que as levam a renascer e se adaptar a mudanças no estilo de vida prejudicial à saúde, também o representam como um corpo fragilizado por suas limitações e cicatrizes, resultando em experiências negativas sobre sua sexualidade, que as conduzem a sentimentos de solidão. Os resultados apontam que conhecer as representações e a influência do gênero na experiência do corpo após a revascularização do miocárdio contribui para a integralidade e individualização do cuidado, e melhor resolutividade dos problemas e dúvidas apresentados por esse grupo de mulheres. Dessa maneira, a enfermeira pode ajustar as orientações em saúde para cada sexo, em especial a mulher, contribuindo para a aderência às orientações do tratamento e aprimorando o cuidado de enfermagem. (AU)