Continuidades e descontinuidades intergeracionais sobre a experiência de amamentar: um estudo de representações sociais
Publication year: 2011
A amamentação, processo sociocultural complexo e multifacetado, permite às mulheres de uma
mesma ou de distintas gerações, dentro da estrutura societal e no interior de um grupo parental,
experimentar e/ou elaborar múltiplas representações que podem ser continuadas e/ou descontinuadas a
depender do tempo social dos grupos de pertencimento. Trata-se de um estudo quanti-qualitativo, de
natureza exploratória e descritiva, fundamentado na Teoria das Representações Sociais e Teoria do
Núcleo Central, com utilização da abordagem multimétodos, com os objetivos de apreender e discutir
as representações sociais de mulheres da mesma família sobre a experiência de amamentar ancoradas
na intergeracionalidade e analisar as continuidades e descontinuidades que permeiam este fenômeno
social. Participaram 21 mulheres de três gerações distintas e da mesma família que tivessem
experienciado a prática de amamentar. Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram a
Técnica de Associação Livre de Palavras – TALP, o Desenho - Estória com Tema e a Entrevista Semi
- Estruturada, devidamente aplicada em outubro de 2009 a julho de 2010. Os dados provenientes do
TALP foram submetidos à Análise Fatorial por Correspondência - AFC, através do software Tri-DeuxMots com os 6 estímulos indutores: amamentação, sua experiência com a amamentação, aprendizado
sobre amamentação, troca de experiências entre as gerações, ensinamento na amamentação e leite
materno e a elaboração do Quadro de Quatro Casas pelo EVOC com apenas 1 estímulo indutor: troca
de experiências sobre amamentação com sua filha e neta (1ª geração), com sua mãe e filha (2ª geração)
e com sua mãe e avó (3ª geração), buscando o sentido e a estrutura da representação social. A análise
do Quadro de Quatro Casas evidenciou que as mulheres significavam esta experiência, através do
conhecimento, pelos elementos centrais, tidos como: importante, aprendizado, passagem, família e
médico, como elementos periféricos: cuidado, dedicação e alegria. A AFC corroborou com a
perspectiva estrutural, quando demonstrou que, no Fator 1, as mulheres revelaram os sentidos da
experiência por alimentação, saúde, amor, cuidado, bom, obrigação, mãe, filha, criança, prevenção
de doença. Para o Fator 2, estas mulheres ainda evocaram aprendizado, carinho, obrigação, saúde,
bom, mãe, criança, forte. Ademais, as narrativas, o iconográfico e a entrevista semi-estruturada foram
analisados na dimensão da análise de conteúdo, caracterizando a perspectiva temática. As estórias
contidas nos desenhos evidenciaram que a prática da amamentação encontrava-se ancorada no
processo ensino-aprendizagem das distintas gerações e pelo cuidar do bebê como núcleo central, que
os benefícios da amamentação, presentes nas três gerações, concentravam-se no enfoque físicoorgânico de desenvolvimento do bebê em direção a uma perspectiva de saúde da mulher e que a
amamentação estava entremeada pelas relações de afeto. Por fim, a análise temática das entrevistas
definiu-se por quatro categorias e 11 subcategorias para a 1ª geração, quatro categorias e 12
subcategorias para a 2ª geração e quatro categorias e 10 subcategorias para a 3ª geração. Estes
resultados permitiram que fosse conhecida a experiência a partir da percepção positiva e/ou negativa
da amamentação, do processo ensino-aprendizagem desenvolvida pelas gerações, profissionais de
saúde, observação e mídia, do cuidar com o bebê na amamentação e da concepção de amamentar,
definida como biológica e/ou social. Conclui-se, acreditando que este estudo permitirá o olhar
amplificado, não apenas de profissionais de saúde e áreas afins, mas para aqueles que pretendem
analisar um fenômeno multifacetado e complexo como a amamentação, acrescido das possibilidades
inter e/ou transgeracional, compreendendo-o sob a ótica dos agentes formuladores. (AU)