O cuidado à criança quilombola no domicílio à luz da teoria transcultural de Leininger
Home Care of Quilombola Children in the light of Leininger’s Transcultural Theory
El Cuidado a los niños Quilombolas en Domicilio a la luz de la Teoría Transcultural de Leininger

Publication year: 2013

O cuidado à criança em suas diversas fases envolve uma série de aspectos, dentre os quais se destacam as influências socioculturais, principalmente numa comunidade quilombola com crianças de zero a um ano de idade. Esse estudo teve como objetivo geral analisar o cuidado à saúde prestado no domicílio à criança de 0 a 1 ano na comunidade quilombola do Monte Recôncavo em São Francisco do Conde – BA, na perspectiva da Teoria Transcultural do Cuidado de Leininger.

Os objetivos específicos foram:

compreender os significados de saúde e doença para cuidadores de crianças de 0 a 1 ano em comunidade quilombola; descrever os cuidados de saúde domiciliares prestados à criança de 0 a 1 ano na comunidade quilombola; identificar as práticas populares de saúde no cuidado domiciliar de crianças de 0 a 1 ano; descrever a rede de suporte social das famílias para cuidar de crianças pequenas no domicílio.

Metodologia:

Pesquisa qualitativa, fundamentada na Teoria Transcultural do Cuidado de Leininger. O local do estudo foi o distrito de Monte Recôncavo, comunidade remanescente quilombola, em São Francisco do Conde - BA. Os sujeitos de estudo foram onze mães de crianças de 0 a 1 ano de idade, entrevistadas em seus domicílios. A pesquisa obteve aprovação do CEP da EE/UFBA, com Protocolo nº 04.2010. Para a coleta de dados utilizou-se História Oral de Vida Temática, Observação Descritiva e Diário de Campo. Os dados foram analisados segundo a técnica de Análise de Conteúdo, constituindo quatro categorias temáticas: Significados do Processo Saúde-Doença da Criança na percepção das Mães; Cuidados Cotidianos de Saúde com as Crianças Quilombolas de 0 a 1 ano; Cuidado nas Intercorrências no primeiro ano de vida: das Práticas Populares à Medicalização e Suporte Social de Cuidados à saúde da criança quilombola de 0 a 1 ano. Os dados apontaram que as mães significam o processo saúde-doença das crianças principalmente pela sintomatologia e entendem a doença como fenômeno pluricausal, influenciadas pelas crenças e tabus e adotam medidas contínuas de promoção à saúde dos filhos. Para cuidar das crianças, as mulheres fazem arranjos internos à dinâmica familiar e assumem o cuidado integral da criança, ainda que inseridas numa rede social de suporte. Os cuidados cotidianos emergem pelas práticas direcionadas à higiene e proteção do bebê tais como alimentação, limpeza do coto umbilical, atenção à erupção dental, estimulação psicomotora e para a proteção do sono e repouso. O cuidado domiciliar da criança quilombola tem interferência direta da cultura, dos modos de organização familiar, tornando-se evidentes as práticas populares de saúde, por meio do uso dos chás e remédios caseiros, banhos, amuletos, incluindo as práticas religiosas, como as rezas e uso do óleo ungido. O suporte social para cuidado da criança emerge por meio do apoio de membros da família, como avós e pais, e ajuda de pessoas diferentes da comunidade, e da invisibilidade dos serviços e profissionais de saúde. O cuidar/cuidado reveste-se de singularidades em um processo dinâmico, atrelado ao contexto sociocultural e que se concretiza em cada família em sua diversidade e universalidade, como propõe Leininger.(AU)