Publication year: 2009
Em razão de sua elevada incidência, a neoplasia da mama torna-se uma das grandes
preocupações epidemiológicas, sobretudo, pelos impactos psicológicos e sociais que
acarretam para a saúde da mulher. Estudo qualitativo de abordagem fenomenológica tem
como objeto os modos de ser da mulher mastectomizada com reconstrução mamária,
objetivando desvelar o sentido que funda o comportamento do ser mulher mastectomizada
com reconstrução mamária. A análise interpretativa foi pautada nos pressupostos teóricos
filosóficos de Martin Heidegger. A entrevista fenomenológica, aplicada a nove mulheres
mastectomizadas com reconstrução mamária, ocorreu no período outubro de 2008 a março de
2009, em uma instituição filantrópica de referência para o tratamento do câncer localizada em
Salvador – Bahia.
A entrevista foi conduzida pelas seguintes questões norteadoras:
Como tem
sido o seu dia-a-dia após a retirada da mama? Como foi para a senhora ter a mama
reconstruída? O que veio a ser o seu cotidiano após a reconstrução mamária? A partir da
compreensão vaga e mediana, presente nos depoimentos das mulheres, foram construídas três
unidades de significado: o medo está relacionado ao diagnóstico de câncer, ao tratamento, a
mastectomia e a recidiva do câncer de mama; o grupo de apoio terapêutico à mulher
mastectomizada mostra-se como um suporte determinante no enfrentamento das dificuldades
advindas após o diagnóstico de câncer de mama; a reconstrução mamária se apresenta as
mulheres como marco inicial para uma vida nova. Pela interpretação compreensiva
heideggeriana, construí as seguintes unidades de significação: o medo, como possibilidade
própria da presença, revelou-se ao ser-mulher submetida à reconstrução mamária, a partir da
vivência do câncer e suas consequências; o ser-mulher submetida à reconstrução mamária
experiencia a autenticidade da presença no ser-com-o-outro nos grupos de apoio; o ser-mulher
e o cotidiano frente a mastectomia e a reconstrução mamária: possibilidade e de-cisão.
Compreendi que, embora as mulheres na sua cotidianidade não se encontrassem mais em
tratamento para o câncer de mama, o comportamento do medo estava velado no ser-mulher
como modo de disposição, pois as lembranças remetiam a trajetória do câncer e em todo o
tratamento. Em outro movimento interpretativo, o ser-mulher inserida nos grupos de apoio
terapêutico experiencia a autenticidade da presença no ser-com-os-outros no cotidiano. Nesta
compreensão, a mulher é um ser-com, não sendo possível separar-se daqueles com os quais
mantém suas relações no mundo. Compreendi que, a possibilidade da presença de preocuparse com os outros se revelou no momento do cuidado. Destaco esta possibilidade da presença,
no momento de assistir o sujeito do cuidado, que nas práticas de saúde atuais vêm sendo
fragmentado em decorrência do modelo biomédico, que desconsidera os aspectos subjetivos
do adoecer humano. Após a reconstrução mamária, as mulheres foram conduzidas a uma nova
situação existencial, se redescobrindo como seres de possibilidades, lançadas em um mundo
numa experiência complexa de ex-sistir-com-câncer-de-mama.(AU)