Cuidado pré-natal a mulheres negras e brancas no Brasil: indicador de adequação e fatores associados
Prenatal care for black and white women in Brazil: adequacy indicator and associated factors

Publication year: 2017

A despeito da alta cobertura do pré-natal no Brasil, análises sobre o cuidado adequado identificam baixos percentuais de acesso das mulheres a esse tipo de serviço. Fatores de ordem socioeconômica e demográfica, com destaque para a raça/cor, têm caracterizado as desigualdades de acesso das mulheres ao cuidado pré-natal adequado, embora não haja consenso na literatura de que as mulheres negras têm o pior acesso ao cuidado adequado. Tem-se como objetivo geral comparar a utilização do cuidado pré-natal adequado entre mulheres negras e brancas no Brasil, e como objetivos específicos caracterizar as mulheres usuárias do cuidado pré-natal segundo a raça/cor e outros fatores sociodemográficos; estimar a magnitude da adequação global do cuidado pré-natal; verificar a associação entre o índice padronizado de adequação do cuidado pré-natal e a raça/cor e verificar associação entre os indicadores de processo do cuidado pré-natal adequado e a raça/cor. Estudo de abordagem quantitativa, do tipo transversal, de base populacional, realizado com dados da Pesquisa Nacional de Saúde. A amostra foi constituída por 1851 mulheres com 18 anos ou mais de idade, residentes no Brasil. Construiu-se um índice de adequação do cuidado pré-natal com base nas mensurações do escore Z, classificados em três níveis: adequado, intermediário e inadequado. O pré-natal adequado foi definido tomando como referência as recomendações mínimas propostas pelo Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento e pelo Manual técnico de atenção ao pré-natal de alto risco, sendo que os índices de adequação do pré-natal compuseram as variáveis dependentes. A variável raça/cor foi constituída pelos grupos negra e branca e considerada como variável independente principal e as características sociodemográficas das mulheres como covariáveis. A análise estatística foi realizada mediante obtenção das medidas de tendência central (média e mediana), desvio- padrão, frequência (absolutas e percentuais), prevalência e odds ratio. A verificação da associação entre as variáveis dependentes e independentes foi realizada mediante a análise bivariada tabular e por meio da regressão logística multinível, estimando-se, desta forma, o odds ratio (OR) e seu respectivo intervalo de confiança de 95%. Em todas as análises estatísticas adotou-se o nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). Os resultados apontaram que mulheres negras possuem menor chance de iniciar o pré-natal antes da 12ª semana, realizar mais de 6 consultas, realizar teste HIV, realizar VDRL, realizar exame das mamas e receber orientações quanto à gestação, parto e aleitamento materno. Os achados também evidenciaram associação entre a raça/cor e a idade, escolaridade, renda, ocupação, paridade e utilização do serviço público. Encontramos 10,8% de adequação global do cuidado pré-natal e associação estatisticamente significante entre a raça/cor das mulheres e o índice de adequação pré-natal (OR= 0,45; IC95%:0,30- 0,67). Conhecer os grupos vulneráveis e seu perfil de utilização dos serviços de saúde é ferramenta fundamental para o planejamento de ações direcionadas à eliminação das desigualdades. Este estudo poderá contribuir para formulação de políticas de atenção às mulheres com base nas reais condições do acesso ao cuidado adequado, segundo a raça/cor, assim como elucidar quais os fatores que concorrem para a baixa cobertura do pré-natal adequado. (AU)