Publication year: 2016
Introdução:
Dentre as causas de fragilização dos vínculos de trabalho e aumento da exploração da força de trabalho nos hospitais públicos está a mudança nos modelos de gestão. As enfermeiras, como trabalhadoras assalariadas, têm seu processo de trabalho intensamente atingido por essas mudanças e, portanto, a análise do processo de trabalho da enfermeira pode revelar as condições sociais da produção da saúde nos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo deste estudo foi analisar as características do processo de trabalho das enfermeiras em hospitais da rede estadual do SUS na Bahia sob administração direta e sob administração indireta. Métodos:
Estudo descritivo e exploratório, quantitativo, realizado nos hospitais da rede estadual de serviços de saúde da Bahia. Foram entrevistadas 256 enfermeiras no período de março a outubro de 2015. Os dados foram analisados com frequências uni e bivariadas e medidas de tendência central e desvio-padrão. Na análise bivariada empregou-se o teste Qui-quadrado de Pearson, Fisher ou Tendência Linear. Utilizou-se o coeficiente Kappa para avaliação da concordância entre atividades auto referidas e avaliadas. Adotou-se a significância estatística de 5%. Resultados:
Na amostra, predominaram mulheres pardas e pretas, com idade média de 39 anos, qualificadas, qualificadas com remuneração entre 3 e 4 salários mínimos. Nos dois grupos observaram-se longas jornadas diárias de trabalho (86,7% ≥ 12 horas), alta proporção de duplo vínculo empregatício (58,6%), sobrecarga de pacientes (56,6%), falta de tempo para interação com o usuário (53,5%) e polivalência (54,3%). As atividades mais frequentemente realizadas foram a sistematização da assistência (64,1%) e os procedimentos técnicos (63,3%). Houve baixa concordância entre a atividade predominante auto-referida e atividade predominante avaliada (p=0,000), com predomínio de atividades assistenciais-administrativas (47,8%). As enfermeiras em hospitais sob administração direta comparadas às sob administração indireta eram mais velhas (p=0,000), mais experientes (p=0,000), cumpriam menores jornadas semanais de trabalho (p=0,000) e trabalhavam em turnos menos estressantes (p=0,015). Contudo tinham menos acesso a educação permanente (p=0,000), executavam mais atividades para as quais não eram qualificadas (0,024), participavam menos de reuniões (p=0,000) e de tomada de decisões (p=0,018), utilizavam menos protocolos operacionais (p=0,000), tinham menor disponibilidade e menor adequação de materiais e equipamentos (p=0,000), realizavam mais adaptações e improvisos (p=0,000) e dispunham de piores condições de trabalho para atender o perfil de gravidade do usuário (p=0,000). Conclusão:
Constatou-se homogeneidade entre os grupos quanto às características dos objetos de trabalho e das atividades, com alta proporção de subdimensionamento de pessoal, polivalência, intensificação do trabalho e baixos salários, resultando em precarização do trabalho. Houve diferença entre os grupos quanto aos agentes, benéfica para o grupo sob administração direta, e quanto aos instrumentos, vantajosa para o grupo sob administração indireta. Os resultados clamam pelo aumento de salários, redução das jornadas diárias e semanais, aumento do número de trabalhadoras nos hospitais públicos do SUS e viabilização da sua qualificação.(AU)