Planejamento reprodutivo: experiências de mulheres com anemia falciforme
Reproductive Planning: experiences of women with sickle cell anemia
Planificación reproductiva: experiencias de las mujeres con anemia de células falciformes
Publication year: 2014
A anemia falciforme interfere diretamente na vivência e na saúde reprodutiva das mulheres. Ela não contra indica a gravidez, contudo, devido ao seu potencial de gravidade, a gestação em mulheres com este diagnóstico é considerada de alto risco, assim como a contracepção hormonal que também apresenta algumas complicações associadas, sendo necessário, a realização de um planejamento reprodutivo adequado e seguro, que se constitui um importante fator no cuidado à mulher com a doença. É fundamental entender os desafios enfrentados por essas pessoas nas decisões de saúde reprodutiva, tornando-se assim, importante desdobrar os estudos para além das imposições biológicas da doença e compreender melhor todos os aspectos envolvidos nestas decisões. Assim, esse estudo teve como objetivo analisar as experiências de mulheres com anemia falciforme no contexto do Planejamento Reprodutivo. Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa, realizado com 14 mulheres com diagnóstico confirmado de anemia falciforme, cadastradas na Associação Feirense de Pessoas com Doença Falciforme, na cidade de Feira de Santana, através de entrevistas semiestruturadas utilizando como método de análise o Discurso do Sujeito Coletivo. Os resultados apontaram que as mulheres com anemia falciforme vivenciam muitos conflitos relacionados à concepção e a contracepção, o que as deixam inseguras e temerosas com relação ao desejo de ser mãe ou de engravidar novamente, e a forma de lidar com esses conflitos varia da experiência vivenciada por cada mulher, seja entre aquelas que nunca engravidaram como nas que já tem filhos(as) mas vivenciaram uma gravidez não planejada e as complicações decorrentes da doença. As experiências com o uso de métodos contraceptivos também foi apontada como conflituosa devido às dúvidas existentes, os efeitos colaterais, as concepções errôneas e o uso inadequado dos mesmos, resultando em gestações não planejadas e complicações no quadro clínico. Com relação ao acompanhamento com profissionais de saúde, foi possível identificar orientações não apropriadas, insegurança na prescrição dos métodos, gerando uma peregrinação das mulheres em busca de orientações que atendessem as suas demandas e medos, ressaltando ainda o uso do discurso médico proibitivo sobre a gestação, não respeitando os direitos reprodutivos das mulheres, contrapondo-se à crença da fé e do desejo de ser mãe, explicitado pelas participantes. As experiências com o planejamento reprodutivo das mulheres com anemia falciforme desse estudo são cercadas pelo conflito, entre desejos, medos, dúvidas e incertezas, que repercutem de forma direta na sua vida reprodutiva e as expõe a diversas situações de risco.(AU)