Publication year: 2008
Este estudo teve como objeto as representações sociais das mulheres negras sobre violência
doméstica e o processo da denúncia e não-denúncia. O objetivo geral foi analisar as
representações sociais de mulheres negras sobre violência doméstica e o processo da
denúncia e da não-denúncia.
Os objetivos específicos foram:
apreender o conteúdo e a
estrutura das representações sociais construídas pelas mulheres negras sobre violência
doméstica e apreender as representações sociais de mulheres negras sobre o processo da
denúncia e da não-denúncia. Utilizou como metodologia a técnica descritiva e exploratória
com abordagem qualitativa e quantitativa fundamentada na Teoria das Representações
Sociais. Foram entrevistadas 150 mulheres residentes na comunidade do Calafate, situada
no município de Salvador/BA. Como instrumento de coleta de dados utilizou-se o Teste de
Associação Livre de Palavras e entrevista acompanhada por formulário semi-estruturado
com perguntas abertas e fechadas. Os dados quantitativos foram tabulados e processados
com o uso dos softwares, Word, Excel e Evoc 2000 e apresentados na forma de tabelas,
gráficos e quadros. Os dados qualitativos foram organizados com base na análise temática
de Bardin. Foram seguidos os aspectos éticos recomendados pela Resolução 196/96 do
CNS. A caracterização dos sujeitos deste estudo apontou os seguintes resultados:
Predomínio de adultos jovens e adultos, mulheres da raça negra, com baixo nível de
escolaridade, 52% das mulheres são casadas ou vivem em união consensual, desenvolvem
trabalhos laborais de baixa remuneração, dependem financeiramente de terceiros
(marido/companheiro), 80,7% das mulheres declararam já ter sofrido algum tipo de
violência, dentre elas destacam-se a violência psicológica, sexual e física. A estrutura das
representações acerca da violência doméstica encontra-se embasada pelos elementos do
núcleo central no qual se observou representações arraigadas predominantemente no
significado da violência física, diante dos respectivos termos de maior freqüência de
evocação: briga, agressão e espancamento, enquanto que no sistema periférico a
composição dos elementos se apresentou em três etapas de construção desta violência:
causa (ignorância, falta-de-estudo, discórdia e ciúmes), conseqüência (agressão-moral,
infelicidade, indignação, vergonha e destruição) e ação (impotência, silêncio, vingança e
denúncia). As entrevistas qualitativas mostraram que o estudo aponta elementos para
mudança da estrutura das representações de violência doméstica, ancorando essa
representação na indignação destas mulheres pela demora na tramitação da denúncia, a
deficiência da infra-estrutura nas delegacias, o despreparo dos profissionais em prestar o
atendimento a estas mulheres e a fragilidade destas diante do complexo fenômeno da
violência doméstica, mantendo-as presas à situação de violência. O estudo atende a Lei
Maria da Penha por buscar a compreensão da violência doméstica a partir do olhar das
categorias gênero e raça, contribuindo para ampliar as discussões que permeiam o processo
de construção do atendimento na Rede e para dá subsídios para os profissionais em saúde
identificar mulheres em situação de violência doméstica e refletirem acerca da importância
da rede de atendimento.(AU)