Práticas preventivas para o câncer do colo uterino: um estudo com mulheres quilombolas
Preventive practices for cervical cancer: a study with quilombola women
Prácticas preventivas para el cáncer del cuello uterino: un estudio con mujeres quilombolas

Publication year: 2015

A etiopatogenia do câncer do colo uterino é mundialmente conhecida e os meios de prevenção são relativamente simples e de baixo custo. Sua incidência continua alta, sugerindo que o acesso e outros fatores de ordem sociocultural estejam envolvidos neste fenômeno. Objetivou-se conhecer aspectos sócio-econômico-culturais, demográficos e da saúde sexual e reprodutiva de mulheres quilombolas; descrever o conhecimento de mulheres quilombolas sobre o corpo e o câncer cervicouterino, identificando valores culturais relacionados e discutir as práticas de prevenção do câncer do colo do útero utilizadas por mulheres quilombolas. Trata-se de um estudo descritivo com abordagem qualitativa e que tem como objeto o cuidado preventivo de mulheres quilombolas para o câncer do colo uterino. O método utilizado foi o da etnoenfermagem e o referencial teórico a Teoria do Cuidado Cultural. O estudo foi realizado na comunidade quilombola Araçá-Cariacá, no município de Bom Jesus da Lapa, Bahia. Participaram da pesquisa 26 mulheres residentes nessa comunidade com idade igual ou maior que 18 anos. O trabalho de campo foi realizado entre julho e setembro de 2014.

Foram utilizados três capacitadores para a obtenção dos dados de etnoenfermagem:

observação-participação-reflexão, formulário sócio-econômico-cultural e entrevista semiestruturada. O estudo foi guiado pelo Modelo Sunrise e a análise dos depoimentos foi fundamentada na análise de dados da etnoenfermagem. A pesquisa seguiu os princípios éticos da Resolução nº 466/2012 e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia sob o nº 684.165. A comunidade dispõe de água encanada, luz elétrica, não há saneamento básico, nas casas há eletrodomésticos e os principais meios de transporte são moto e carro de linha. As mulheres do estudo são em sua maioria casadas, negras, de pouca escolaridade e baixa renda. Possuem em média três filhos/as; a maioria dos partos foram normais e realizados em hospital. Comumente não consomem bebida alcoólica e tabaco; possuem apenas um parceiro sexual, não utilizam preservativos e negam Infecções Sexualmente Transmissíveis. As mulheres demonstraram dificuldade de entendimento sobre a doença e sua localização, sendo identificada como perigosa, feia e que mata; está associada ao uso de pílulas anticoncepcionais, à não observância de cuidados tradicionais em relação ao parto e pós-parto, ao exercício livre da sexualidade pelas jovens. Muitas mulheres valorizam os cuidados profissionais e utilizam práticas culturais, como o uso de plantas para prevenção do câncer e tratamento de infecção uterina. Dificuldades de acesso aos serviços de saúde também foram destacadas. O conhecimento das condições de vida e saúde de populações específicas e do cuidado preventivo para o câncer do colo uterino por parte das mulheres quilombolas possibilita o planejamento de ações que sejam congruentes com a realidade dessas mulheres e, consequentemente, com resultados mais efetivos e eficientes.(AU)