História oral de Homens que praticaram violência sexual infanto-juvenil
Oral history of men who practiced sexual violence children's
Publication year: 2009
A violência sexual contra crianças e adolescentes se configura como um grave problema de
saúde pública e se manifesta por uma relação de poder que se exerce pelo adulto sobre a
vítima num processo de apropriação e dominação da vontade destes. Uma das grandes
preocupações quanto ao abuso sexual infantil são as repercussões desta violência no
desenvolvimento das vítimas. O fato deste fenômeno ser reproduzido ou não no futuro
dependerá fundamentalmente se a vítima vai encontrar ou não, na sua vida, um adulto que a
ajude a superar o trauma sofrido. Pesquisa de natureza qualitativa fundamentada no método
da história oral temática, cujo objeto foi a análise da história de vida dos agressores de
violência sexual infanto- juvenil. Como objetivo geral, procuramos analisar a história de vida
de agressores sexuais infanto-juvenil. A coleta de dados foi realizada no período de agosto de
2008 a janeiro de 2009, inicialmente na Vara de execuções penais e em seguida na
Penitenciária Lemos de Brito, ambos no município de Salvador- Bahia. A amostra dos
sujeitos para caracterização dos agressores foi constituído por 79 homens que haviam
cometido crime sexual contra crianças e adolescentes na faixa etária de 0 a 19 anos, no
entanto, para as entrevistas a amostra foi composta somente por 05 sujeitos. A organização e
análise do material foi realizada através do software STATA versão 8.0 e pela análise de
conteúdo de Bardin. Como resultados, encontramos que os homens se caracterizaram como
jovens e adultos, em sua maioria negros, com baixa escolaridade e solteiros. No que se refere
à relação deles com as suas vítimas pudemos perceber que a maioria ocupavam o papel de
pais e padrastos configurando a violência praticada no espaço doméstico. As histórias de vida
destes sujeitos foram permeadas pela violência tanto na infância quanto na adolescência e
ambos apresentavam em suas histórias um conjunto de vivências comuns como maus tratos,
violência, constrangimento com relação à vivência de sexualidade, experiências de rejeição e
perda, trabalho infantil forçado e uso de substâncias psicotrópicas e de álcool. Percebemos
que todos os sujeitos tiveram seu crescimento vital violentamente comprometido, pois
nenhum destes sujeitos na infância e/ou na adolescência tiveram seus direitos respeitados por
nenhuma instância, seja pela família ou Estado, mas foram objetos de negligência,
discriminação, exploração, violência e opressão. Cabe a sociedade discutir o contexto das
histórias de vidas destes sujeitos, sem preconceitos, fortalecendo a opinião pública para que o
Estado venha garantir os direitos das crianças e adolescentes vítimas de violência, no sentido
de instaurar uma cultura de respeito à criança a fim de evitar repetições da violência nas
gerações seguintes. Faz-se necessário também a capacitação de profissionais das áreas de
saúde, educação e jurídica, no intuito de identificar e intervir nas situações de violência seja
através da prevenção, diagnóstico ou tratamento das vítimas e também dos agressores.(AU)