Vivências e enfrentamentos de mulheres que usam drogas no exercício da maternidade
Experiences and confrontations of women who use drugs in the exercise of motherhood
Experiencias y enfrentamientos de las mujeres que consumen drogas en el ejercicio de la maternidad
Publication year: 2015
O consumo de drogas por mulheres é uma conduta em expansão, porém socioculturalmente é considerada incompatível com a maternidade. A presente pesquisa parte do pressuposto que tal incompatibilidade atribuída à concomitância da maternidade e do uso problemático de drogas acarreta vulnerabilidades para as mulheres. E, na tentativa de atender às funções maternas inerentes ao papel social de mãe, as mulheres adotam medidas em relação ao seu consumo de drogas e à sua prole que merecem ser conhecidas. Trata-se de pesquisa de abordagem qualitativa com objetivo de: Conhecer vivências de mulheres que usam drogas no exercício da maternidade; Identificar situações de vulnerabilidade vivenciadas por mulheres que usam drogas no exercício da maternidade; Descrever formas de enfrentamento adotadas por mulheres que usam drogas para o exercício da maternidade. Participaram 15 mulheres cadastradas e em atendimento no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas ou na Unidade de Saúde da Família, ambas localizadas no Centro Histórico de Salvador- Bahia. Para produção dos dados foram utilizadas a observação participante com registro em diário de campo e entrevista semiestruturada. O conceito de vulnerabilidade e suas dimensões, os estudos socioculturais relacionados à maternidade e ao envolvimento feminino no fenômeno das drogas foram utilizados para nortear a análise das informações. As participantes desta pesquisa tinham idade entre 19 e 61 anos, majoritariamente se autodeclararam da raça/cor negra e exercer atividades remuneradas, porém sem renda fixa. O padrão de consumo de drogas atual variou entre diariamente e esporadicamente, sendo as substâncias mais utilizadas o álcool, maconha e/ou medicamentos. Os resultados desta pesquisa apontam que a (auto)condenação em ser mãe e usuária de drogas, vinculada a papéis historicamente construídos para função materna e somada a rejeição da gravidez, as repercussões do efeito das drogas para mãe e feto/recém-nascido, a ausência e/ou fata de apoio da figura paterna, o luto pela morte e/ou afastamento dos filhos por opção ou imposição e a condição socioeconômica foram evidenciados como elementos de vulnerabilidade nas dimensões individuais e sociais. No entanto, na tentativa de atender papéis e funções socioculturalmente estabelecidas para o exercício da maternidade, as mulheres adotam ações de cuidado e de proteção com a prole e alteram o padrão de consumo de drogas. Tais ações diz respeito a cuidados consigo, através da realização do pré-natal, cuidados diretos com a prole, a doação dos filhos como forma de zelo e proteção, redução do uso, substituição de drogas consideradas mais prejudiciais por outras menos nocivas, e a busca por tratamento. A identificação de elementos de vulnerabilidade e de formas de enfrentamento para o exercício da maternidade favorece a elaboração e o desenvolvimento de ações, com vista da melhoria da prática de cuidados em saúde direcionados às mulheres que usam drogas.(AU)