Avaliação da cultura de segurança e eventos adversos cirúrgicos em hospitais brasileiros

Publication year: 2019

A segurança do paciente cirúrgico é componente crítico na qualidade do cuidado em saúde e danos evitáveis persistem, inaceitavelmente, frequentes.

Objetivo:

avaliar a cultura de segurança do paciente e identificar eventos adversos cirúrgicos.

Metodologia:

estudo analítico, transversal, de abordagem quantitativa, desenvolvido nas unidades de centro cirúrgico e de internação cirúrgica de três hospitais de ensino da região sul do Brasil, nominados A - hospital federal; Bhospital privado e C - hospital estadual. Entre maio de 2017 e abril de 2019 foram coletados os dados do estudo, com simultânea pesquisa metodológica para tradução, adaptação e validação, para língua portuguesa do Brasil, do módulo cirúrgico Global Trigger Tool do Institute of Healthcare Improvement, empregado para rastrear os eventos adversos, juntamente com o instrumento do Canadian Adverse Event Study. Os potenciais eventos adversos foram identificados em amostra aleatória simples, com 678 prontuários analisados; os confirmados por especialistas foram classificados por tipo, grau de dano e potencial de evitabilidade. Para avaliar a cultura de segurança foi usado o formulário, autoaplicável, Hospital Survey on Patient Safety Culture com 381 profissionais das equipes de enfermagem e médica, por amostra não probabilística intencional; dimensões com índices ?75% foram consideradas fortalecidas. Para a análise dos dados utilizou-se os seguintes testes: para a tradução o índice de validade de conteúdo para concordância entre especialistas e coeficiente Alfa de Cronbach; na associação entre os hospitais utilizou-se modelo de análise da variância ANOVA com um fator ou o teste nãoparamétrico de Kruskal-Wallis e Fisher ou teste de Qui-quadrado; valores de p<0,05 indicaram significância estatística para eventos adversos. Na análise da cultura de segurança utilizou-se o teste Alfa de Cronbach para confiabilidade do instrumento, o modelo da variância com um fator ou o teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis para variáveis quantitativas e teste de Qui-quadrado para variáveis categóricas; valores de p<0,05 indicaram significância estatística.

Resultados:

A cultura de segurança apresentou-se fragilizada (?50%), nos três hospitais, nas dimensões Apoio da gestão para a segurança do paciente, Percepção geral da segurança do paciente, Retorno da informação e comunicação sobre o erro, Adequação de profissionais, Passagem de plantão/turnos e transferências e Respostas não punitivas ao erro. Trabalho em equipe dentro das unidades foi identificada como fortalecida no hospital privado; o Alfa de Cronbach geral mostrou confiabilidade do instrumento. O módulo cirúrgico traduzido foi considerado válido, confiável e com equivalências semântica, idiomática, conceitual, cultural e de conteúdo satisfatórias. A prevalência média dos eventos foi de 21%, 14,2% e 12,7% (p=0,044), e de readmissões de 9,8%; 29,4% e 45,2% (p=0,003), respectivamente, nos Hospitais A, B e C, evidenciando diferença estatística. A maioria dos eventos foi considerada evitável, resultando em danos leves e/ou moderados; os eventos prevalentes foram Infecção de Sítio Cirúrgico, Septicemia/Choque Séptico, Hematoma/Seroma, Deiscência de Sutura, Fístulas e Infecção do Trato Urinário.

Conclusão:

as dimensões frágeis da cultura de segurança são expressivas e mostram prioridades ao seu fortalecimento. A tradução e adaptação do módulo cirúrgico contribuiu para o rastreamento de eventos adversos e constitui instrumento aplicável no Brasil; o método de rastreamento evidenciou alta prevalência de eventos adversos cirúrgicos, apontando a importância do tema e a relevância de estratégias em prol da promoção da segurança cirúrgica e qualidade assistencial hospitalar.

Abstract:

Surgical patient safety is a critical component in the quality of health care where the preventable injuries persist, being unacceptably frequent.

Objective:

To evaluate patient safety culture and identify surgical adverse events.

Methodology:

An analytical, cross-sectional study with a quantitative approach, developed in the surgery room and inpatient units of three teaching hospitals in southern Brazil, referred to as A: federal hospital; B: private hospital and C: state hospital. The study's data were collected from May 2017 to April 2019, with simultaneous methodological research for translating, adapting and validating, for Brazilian Portuguese, the Global Trigger Tool surgical module of the Institute of Healthcare Improvement, employed to track adverse events, together with the Canadian Adverse Event Study instrument. Potential adverse events were identified in a simple random sample, with 678 analyzed medical records; those confirmed by experts were classified by type, degree of damage and avoidability potential. To assess the safety culture, the selfadministered form, Hospital Survey on Patient Safety Culture with 381 professionals from the nursing and medical teams, by an intentional non-probabilistic sample; dimensions with indexes ?75% were considered strengthened.

For data analysis the following tests were used:

for the translation, the content validity index for agreement among experts and Cronbach's alpha coefficient; in the association between the hospitals, the one-way ANOVA variance analysis model or the Kruskal-Wallis and Fisher non-parametric test or the Chi-square test were used; p values <0.05 indicated statistical significance for adverse events. Cronbach's alpha test for reliability of the safety culture, the one-way variance model or the non-parametric Kruskal-Wallis test for quantitative variables and the chi-square test for categorical variables were used; p values <0.05 indicated statistical significance.

Results:

Safety culture was fragile (??50%) in the three hospitals, in the dimensions Management support for patient safety; General perception of patient safety; Return of information and communication about the error; Adequacy of professionals; Change of duty/shifts and transfers and Non-punitive error responses. The teamwork within the units was identified as strengthened in the private hospital; the general Cronbach's Alpha shoed the reliability of the instrument. The translated surgical module was considered valid, reliable and with satisfactory semantic, idiomatic, conceptual, cultural and content equivalences. The mean prevalence of the events was 21%, 14.2% and 12.7% (p=0.044), and for the readmissions, 9.8%; 29.4% and 45.2% (p=0.003), respectively, in Hospitals A, B and C, showing statistical difference. Most of the events were considered preventable, resulting in mild and/or moderate damage; Surgical Site Infection, Septicemia/Septic Shock, Hematoma/Septic Shock, Suture Dehiscence, Fistulas and Urinary Tract Infection were prevalent.

Conclusion:

The fragile dimensions of the safety culture are expressive and show priorities for its strengthening. The translation and adaptation of the surgical module contributed to the tracking of adverse events and is an applicable instrument in Brazil; the screening method evidenced a high prevalence of surgical adverse events, pointing out the importance of the theme and the relevance of strategies to promote surgical safety and hospital care quality.