O vivido de mulheres com lesões precursoras de câncer do colo do útero: do diagnóstico à terapêutica
The experience of women with precursor lesions of cervical cancer: from the diagnosis to the therapeutics

Publication year: 2010

Os índices de morbi-mortalidade por câncer do colo do útero demonstram que esta patologia é considerada um problema de saúde pública, atingindo grande parcela da população mundial. Isto decorre de diversos fatores, desde o diagnóstico tardio até a falta de informação das pessoas sobre prevenção, fatores de risco, tratamento, entre outros. Doença tratável, cujo potencial de cura pode chegar a 100% quando diagnosticado e tratado inicialmente ou em fases das lesões precursoras. A possibilidade do câncer em nossa existência é difícil de ser abordada, pois quase sempre, é definido por termos que denotam terror, medo, vergonha. Estudo qualitativo de abordagem fenomenológica tem como objeto o vivido de mulheres com lesões precursoras de câncer do colo do útero, objetivando compreender o vivido destas mulheres. A análise interpretativa ancorou-se no referencial teórico filosófico de Martin Heidegger, expresso em Ser e Tempo. A entrevista fenomenológica, aplicada a sete mulheres com diagnóstico de lesões precursoras, ocorreu em agosto de 2009, em uma unidade de referência para o tratamento destas lesões, localizada em Feira de Santana – Bahia. A condução da entrevista pautou-se em questões de aproximação e na seguinte questão norteadora: Como é, para a Sr.ª, a experiência de ter uma alteração no colo do útero? A partir da compreensão dos aspectos ônticos foram construídas oito unidades de significado na qual as mulheres revelaram dúvidas e medo pelo desconhecimento em relação às lesões precursoras do câncer do colo do útero, mudanças no relacionamento com os parceiros, evidenciadas a partir do diagnóstico das lesões precursoras, dificuldades de ter amigos participando no processo de enfrentamento das lesões precursoras, importância da família durante o diagnóstico e o tratamento das lesões precursoras, estratégias de enfrentamento para lidar com as lesões precursoras e as modificações que realizaram em seu cotidiano, o relacionamento com as profissionais de saúde e o descrédito na assistência para prevenção do câncer do colo do útero nos postos de saúde do município, sentimentos de vergonha, medo e constrangimento na realização do papanicolaou e o medo da morte por câncer do colo do útero desde a comunicação do diagnóstico das lesões precursoras. Compreendi que a possibilidade do vir a adoecer de câncer do colo do útero leva a mulher com lesão precursora a apresentar o temor, manifestado pela preocupação, pelo medo, pela ansiedade, pelas dúvidas quanto ao diagnóstico e as indicações terapêuticas. Estes sentimentos permitem-na pensar, também, na possibilidade concreta da finitude. E que, como sendo-no-mundo, mulheres não encontraram a expressão autêntica do cuidado, retirando-a da condição de poder-ser. Considero que as profissionais de saúde não devem esquecer que o primordial na nossa profissão é o cuidar, e que este não pode ser influenciado pela cotidianidade, transformandose, assim, num cuidado inautêntico.(AU)