Avaliação da cultura de segurança e ocorrência de eventos adversos cirúrgicos em diferentes naturezas administrativas da gestão pública
Publication year: 2018
Este estudo analisou o efeito da transição da administração da gestão pública na cultura de segurança organizacional e na ocorrência de eventos adversos cirúrgicos em hospital de ensino da região Sul do Brasil. Trata-se de pesquisa avaliativa de abordagem quantitativa desenvolvida na unidade de centro cirúrgico e unidades de internações cirúrgicas, no qual foram investigados a cultura de segurança (grupo I) e ocorrência de evento adverso (grupo II) para a administração direta (período I) e indireta (período II). A população foi composta por profissionais de saúde para análise da cultura de segurança com aplicação do instrumento Hospital Survey on Patient Safety Culture à 73 e 158 profissionais, respectivamente. Para o período I utilizou-se dados secundários coletados entre outubro/2014 e junho/2015; para o período II a coleta se deu entre maio e setembro/2017. A identificação de eventos adversos foi realizada de julho a novembro/2017, em duas fases. Na primeira, para rastreamento de casos, foi realizada revisão retrospectiva em amostra aleatória simples, composta de 192 e 195 prontuários (período I e II), utilizando-se formulários preconizados pelo Canadian Adverse Events Study e Global Trigger Tool do Institute of Healthcare Improvement. A segunda fase objetivou a confirmação dos casos, o grau de dano e o potencial de evitabilidade por comitê de especialistas. Para comparação entre os dois períodos, em relação às variáveis quantitativas, aplicou-se teste t de Student para amostras independentes ou teste nãoparamétrico de Mann-Whitney. Para as variáveis categóricas as comparações foram feitas usando-se o teste exato de Fisher ou teste de Qui-quadrado. A confiabilidade do instrumento foi testada por meio do Alfa de Cronbach. Os resultados apontam que a transição da administração pública influenciou positivamente nas dimensões "Adequação de profissionais" e "Passagem de plantão/turno e transferências" e negativamente em "Trabalho em equipe dentro das unidades" (p<0,001); nas demais nove dimensões não houve diferença. A dimensão "Expectativas sobre supervisor/chefe e ações promotoras de segurança" destacou-se no período I (64,5%) e "Aprendizado organizacional - melhoria contínua" no período II (59,5%). Nenhuma dimensão mostrou-se positiva (?75%) em ambos os períodos e não houve diferença significativa entre os períodos referente à notificação de eventos adversos pela equipe. As dimensões isoladamente resultaram em baixa confiabilidade do instrumento. Quanto à incidência dos eventos adversos cirúrgicos (21,8%,n= 60; 21%,n= 53), não houve diferença significativa entre os períodos; 90% e 92,5%, respectivamente, foram considerados potencialmente evitáveis, e resultaram em danos leves e moderados. Destacaram-se, em ambos os períodos, eventos relacionados à infecção de sítio cirúrgico (30%;n=18; 32,1%;n=17); hematoma/seroma (15%;n=9 e 18,9%;n=10) e deiscência (16,7%;n=10 e 17%;n=9). A detecção do evento adverso no retorno ambulatorial foi prevalente 10 em ambos os períodos (52,4%;n=22 e 65,9%;n=27). Conclui-se que a transição administrativa da gestão pública não impactou na cultura de segurança organizacional e na ocorrência de eventos adversos. O potencial de evitabilidade dos eventos e de incremento na sua notificação são desafios à gestão, paralelamente ao desenvolvimento da cultura de segurança, a qual se manteve frágil segundo parâmetro utilizado nesta pesquisa, ainda que as dimensões do instrumento tenham se mostrado com baixa confiabilidade.