Vulnerabilidade da Atenção em HIV/AIDS na Estratégia Saúde da Família: um estudo no Município de São Paulo, Brasil
Vulnerability of HIV/AIDS attention in family health strategy: a study in the São Paulo municipality, Brazil

Publication year: 2010

Com a implantação da Estratégia Saúde da Família (ESF), as discussões em torno das responsabilidades da Atenção Básica em relação ao cuidado em HIV/aids vêm se intensificando. As práticas das equipes de saúde da família para o enfrentamento do HIV/aids, na perspectiva de sua vulnerabilidade programática, são o objeto deste estudo.

Seus objetivos foram:

caracterizar as Unidades Básicas de Saúde em termos de sua estrutura física e organizativa; apreender os significados atribuídos pelos gerentes e pelas equipes de saúde da família à vulnerabilidade ao HIV/aids e descrever as atividades de prevenção ao HIV e de assistência às pessoas que vivem com aids, realizadas pelas equipes de saúde. O conceito de vulnerabilidade, em sua dimensão programática, foi usado como quadro teórico. Realizou-se pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas com gerentes ou pessoas indicadas por eles de Unidades Básicas de Saúde, gerentes e enfermeiros de Serviços de Referência para HIV/aids e, também, mediante grupos focais com equipes de saúde da família. O estudo foi conduzido no distrito de Capão Redondo, região sul do Municício de São Paulo, Brasil. Os resultados mostraram que, em relação à infra-estrutura, as 11 Unidades Básicas de Saúde em que foi implantada a ESF apresentam limitações de espaço físico para realizar atividades de prevenção ao HIV, que acabam sendo feitas de modo improvisado em locais externos. O trabalho das equipes é organizado em torno das prioridades definidas pela ESF e não tem como foco o HIV/aids. As equipes percebem o processo saúde-doença e a vulnerabilidade ao HIV/aids ligados à dimensão individual e relacionados a atributos biológicos e comportamentais. Predominam intervenções informativas, com foco na mudança de comportamento e forte caráter normativo. Há poucas oportunidades para o desenvolvimento de vínculo eproximidade e as práticas das equipes mostram-se fragmentadas e não consolidadas, resumindo-se à realização de procedimentos e encaminhamentos aos serviços de referência. As práticas cuidadoras são raras; ocorrem nas situações em que as equipes conhecem e compartilham o cotidiano de vida dos indivíduos e famílias, inteirando-se de seus problemas e necessidades. Conclui-se que o modelo tecno-assistencial vigente, mesmo na ESF, não foi capaz de promover a integralidade no que toca ao cuidado em HIV/aids, determinando assim a vulnerabilidade programática observada.