A experiência de mulheres, acompanhantes e enfermeiras obstétricas no parto domiciliar planejado

Publication year: 2019

Resumo:

Algumas mulheres vêm resgatando o domicílio como alternativa para o parto de seus bebês, a fim de retomarem o papel de protagonistas do nascimento. Da mesma forma, alguns profissionais também encontraram no parto domiciliar uma forma de prestar uma assistência diferenciada e mais autônoma. O objetivo desta pesquisa foi conhecer a experiência das mulheres, acompanhantes e enfermeiras obstétricas no parto domiciliar planejado. Trata-se de pesquisa exploratória de abordagem qualitativa, realizada em Curitiba e região metropolitana. A coleta de dados ocorreu entre outubro e novembro de 2018 por meio de entrevistas semiestruturadas com oito mulheres, seis acompanhantes e oito enfermeiras obstétricas. O recrutamento dos participantes foi realizado por meio do método bola de neve. As entrevistas foram áudio gravadas, transcritas e submetidas à análise de conteúdo emergindo nas seguintes categorias: a prática profissional da enfermeira obstétrica no atendimento responsável e superação do modelo tecnocrático; o parto como manifestação do poder feminino; do processo de escolha ao vínculo com a equipe e o parto como evento familiar. Observou-se que as enfermeiras obstétricas possuem formação como especialistas e que possuem experiência no atendimento ao parto hospitalar, o que confere a elas a segurança e responsabilidade necessárias para o atendimento de emergências. Para elas o domicílio confere autonomia para a atuação profissional, é também o local onde têm a possibilidade de colocar em prática conhecimentos e técnicas diferentes daquelas realizadas no hospital. Para muitas o parto domiciliar representa a realização profissional e pessoal. As mulheres referiram que a experiência do parto em casa é transformadora, preparando-a para os desafios da maternidade e representando a força do corpo da mulher. Também acreditam que o domicílio lhes permite ser protagonistas do processo, tendo a liberdade para se expressarem e ter suas escolhas respeitadas. Os casais referiram que a escolha pelo parto domiciliar foi construída após a busca de informação e contato com especialistas, o que também favoreceu a relação de confiança com a equipe e a certeza de receberem a assistência adequada em caso de intercorrências. Na experiência das mulheres e acompanhantes o nascimento no domicílio possibilita a interação com os filhos mais velhos para a chegada do irmão, bem como favorece o resgate do acompanhante como individuo ativo no processo, transformando para estes o papel como esposo e fortalecendo a relação com os filhos. Conclui-se que o parto domiciliar representa a ruptura com o modelo tecnocrático vigente na maioria dos estabelecimentos de saúde brasileiros, garantindo a devolução do protagonismo do parto para a mulher e promovendo o sentimento de satisfação tanto para elas como para as enfermeiras obstétricas. Também foi observado que a vivência do parto leva à reconstrução do papel paterno, e promove ainda a desconstrução do tabu ao permitirem a presença dos filhos mais velhos neste evento, levando à construção do conhecimento intergeracional. A partir deste estudo sugere-se a ampliação da discussão sobre a tem ática no cenário acadêmico, bem como inclusão nas políticas nacionais de saúde a fim de melhorar a aceitação da sociedade e das equipes dos hospitais em casos de transferência.

Abstract:

Some wom en have been rescuing their home as an alternative for delivery their babies, in order to resume the role of protagonists of the birth. Similarly, some professionals also found in home childbirth a way to provide differentiated and more autonomous care. The aim of this research was to know the experience of women, their companion and nurse-midwives in the planned home birth. This is an exploratory research of qualitative approach, carried out in Curitiba and region. Data collection occurred between October and November 2018 through sem i-structured interviews with eight women, six companions and eight nurse-midwives. The recruitment of the participants was carried out using the snowball method. The interviews were recorded audio, transcribed and subjected to content analysis emerging in the following categories: the professional practice of nurse-midwives in responsible care and overcoming the technocratic model; childbirth as a manifestation of female power; the process of choosing to bond with the team and childbirth as a fam ily event. It was observed that nurse-midwives have training as specialists and also have experience in hospital delivery, which gives them the necessary safety and responsibility for emergency care. For them the residence confers autonom y for professional performance, it is also the place where they have the possibility of putting into practice different knowledge and techniques of those performed in the hospital. For many home births it represents professional and personal success. W om en reported that the experience of childbirth at home is transformative, preparing it for the challenges of motherhood and representing the strength of wom an's body. They also believe that being at home allows them to be protagonists of the process, having the freedom to express themselves and have their choices respected. The couples reported that the choice for home birth was built after study and contact with specialists, which also favored the relationship of trust with the team and the certainty of receive adequate assistance in case of complications. In the experience of women and companions, home childbirth allows interaction with older children for the arrival of the brother, as well as favors the rescue of the companion as an active participant in the process, transforming the role as a partner and strengthening the relationship with the children. It is concluded that the home birth represents the rupture with the technocratic model prevailing in most Brazilian health establishments, guaranteeing the return of the protagonism of childbirth to the woman and promoting the feeling of satisfaction both for them as for nurse-midwives. It was also observed that the experience of childbirth leads to reconstruction of the paternal role, and further promotes the deconstruction of the taboo by allowing the presence of older children in this event, leading to the construction of knowledge between generations. From this study we suggest the expansion of the discussion on the theme in the academ ic setting, as well as inclusion in national health policies to improve the acceptance of society and the teams of hospitals in cases of transference.