Publication year: 2017
Introdução:
O escorpionismo é reconhecido como um problema de saúde pública em alguns países em desenvolvimento devido à significativa incidência e gravidade, particularmente entre crianças e idosos com comorbidades. No Brasil, estima-se que ocorram cerca de 58.000 acidentes com mais de 80 óbitos por ano, o que representa uma incidência anual aproximada de 30 casos/100.000 habitantes/ano. Justifica-se, portanto, o presente estudo, tendo em vista que, no Município de Santarém-PA, na Amazônia, há dificuldade de acesso aos serviços de saúde pela população local, devido à extensão territorial da região. Objetivo:
Analisar como se processa a ocorrência de acidente escorpiônico no Município de Santarém-PA. Método:
O estudo foi observacional, exploratório, prospectivo, descritivo e qualitativo. Foram sujeitos do estudo, 19 pacientes vítimas de acidente escorpiônico atendidos no PSM, no período de Novembro de 2016 a Fevereiro de 2017. Dados relativos às características pessoais, de condições de vida e de trabalho foram extraídos dos prontuários e confirmados por ocasião das entrevistas realizadas enquanto estiveram internados na unidade hospitalar. Também foram levantados dados clínicos. Utilizou-se de instrumento para a captura dos dados. Os procedimentos éticos foram resguardados.Resultados:
Em relação à caracterização dos sujeitos, verificou-se que dos 19 entrevistados 14 (73,7%) eram do sexo masculino. Quanto à faixa etária, 5 (26,3%) tinham idade entre 5 e 10 anos, e 2 (10,6%) entre 11-20 anos, os demais eram adultos ente 21 e 60 anos. Em relação ao tempo de estudo, mesmo levando em consideração os sujeitos menores de idade, alguns dos sujeitos adultos possuíam baixa escolaridade, sendo o maior número de anos de estudo entre 8 e 10 anos, em 7 (36,8%) dos entrevistados. A maior parte dos acidentes ocorreu na zona rural:
13 (68,5%). Quanto aos sintomas, a dor local foi relatadapor 18 (94,7%); a sensação de choque por 18 (94,7%). O tempo de chegada à unidade hospitalar, após a picada, foi maior que uma hora em 15 (78,9%) dos casos. A análise qualitativa dos depoimentos revelou cinco Temas:
Situação em que ocorreu o acidente escorpiônico; Trajetória percorrida pelo paciente até o tratamento;Providências após a ocorrência do acidente; Manifestações clínicas apresentadas pelas vítimas dos acidentes escorpiônicos; O que foi feito com o escorpião (lacrau).Estes temas evidenciam a experiência dos sujeitos no manejo do agravo; a forma como se processa o percurso até a unidade de atendimento, evidenciando falhas no acesso e vulnerabilidade programática; e algumas características relacionadas ao modo de vida dos indivíduos. Conclusão:
Verificou-se dificuldade no acesso aos serviços de saúde, relacionada à distância geográfica entre as comunidades rurais e o Município de Santarém, onde há o tratamento específico para o acidente escorpiônico, além da necessidade de percorrer várias unidades de saúde até a obtenção do tratamento adequado; a severidade das manifestações locais e sistêmicas; o desconhecimento da população local acerca do manejo apropriado do agravo escorpiônico; e afalta de informações a respeito de ações de prevenção e de tratamento correto. Propõe-se, portanto, uma cartilha para ser utilizada junto às comunidades, para instrumentalizá-las sobre as melhores ações a serem adotadas na prevenção e por ocasião do acidente.