Vivência familiar de tratamento da pessoa com transtorno mental em face da reforma psiquiátrica

Publication year: 2010

Resumo:

Trata-se de uma pesquisa qualitativa com o método da história oral temática, desenvolvida no período de 2008 a 2009, com famílias que tinham um integrante com transtorno mental que residem na cidade de Curitiba e região metropolitana.

Teve como questão norteadora:

como a família vivencia o tratamento da pessoa com transtorno mental em face da reforma psiquiátrica? Para responder a essa indagação foi elaborado o objetivo: conhecer como a família vivencia o tratamento da pessoa com transtorno mental em face da reforma psiquiátrica. Participaram desta pesquisa três famílias, no total de oito colaborares. Os dados foram obtidos por meio de entrevista semiestruturada, analisados de acordo com a proposta de Interpretação Qualitativa de Dados de Minayo, organizados nas categorias temáticas: 1. Atitudes e sentimentos da família em face do adoecimento do seu integrante, 2.

Assistência em saúde mental:

do modelo hospitalocêntrico ao psicossocial, formada por três sub-categorias: 2.1 O (des)cuidado à pessoa internada em hospital psiquiátrico, 2.2 As sucessivas internações em hospitais psiquiátricos, e, 2.

3 Assistência na área da saúde mental sustentada no modelo psicossocial:

avanços, fragilidades e desafios. 3. A convivência familiar em face do transtorno mental. Os colaboradores referiram que em um primeiro momento tentam tratar do familiar com transtorno mental em seu domicílio, entretanto, frente a agudização dos sintomas, é preciso recorrer ao internamento em instituição psiquiátrica, situação por eles vivenciada com intensa angústia e sofrimento.

Relataram as terapêuticas utilizadas pela instituição manicomial como:

camisa de força, eletroconvulsoterapia, contenção física no leito, enfaixamento, e que os objetivos desse aparato institucional era segregar e modelar comportamentos. Em relação às mudanças na assistência consideram os serviços extra-hospitalares como o CAPS/NAPS e ambulatório de saúde mental como estratégias inovadoras e possíveis. Atribuíram a estes dispositivos a melhora na relação familiar, a aceitação da doença e o entendimento de como lidar com as situações conflitantes que a convivência com essa realidade suscita. A convivência familiar é permeada por tensões e conflitos, motivadas pelo não entendimento da doença, e pela estigmatização que o portador de transtorno mental sofre no próprio núcleo familiar. Mencionaram que existe sobrecarga emocional e financeira dos cuidadores e discorreram sobre as estratégias encontradas para buscar uma melhor convivência. Os resultados demonstram que está em curso no país uma mudança de paradigma na forma de assistir a pessoa com transtorno mental, que vai do modelo hospitalocêntrico centrado na exclusão social e no poder médico, ao modelo psicossocial, que objetiva o tratamento em serviços extra-hospitalares, a reinserção social e o repensar do modo de fazer nessa área do conhecimento. Apesar dos avanços, ainda são muitos os desafios postos para a consolidação do modelo psicossocial como a articulação entre atenção básica e saúde mental, a capacitação dos profissionais da área da saúde para acolher e atender as demandas de cuidados dessa clientela e o aumento da amplitude do atendimento nos serviços de base comunitária.

Abstract:

It’s a qualitative research study with a thematic oral history approach carried out with families who had a member with mental disorder living in the city of Curitiba/Brazil and in its metropolitan area from 2008 to 2009.

The guiding question was:

how do families experience the treatment of a mental patient facing the psychiatric reform? To answer this question, the objective was elaborated: to apprehend how families experience the treatment of mental patients facing the psychiatric reform. Three families participated in this study with a total of 8 collaborators. Data were collected by means of a semi-structured interview analyzed according to Minayo’s Qualitative Data Interpretation, organized by thematic categories: 1. Family’s attitudes and feelings facing their member’s illness, 2.

Mental Health care:

from the hospitalcentered model to the psychosocial one, encompassing three sub-categories: 2.1 The (un) care to a person admitted to a psychiatric hospital, 2.2 The repeated admissions to psychiatric hospitals, and 2.

3 Mental health care supported by the psychosocial model:

advances, drawbacks and challenges. 3.

Family living in face of mental disorder:

the collaborators reported that: firstly they try to treat the family member with mental disorder at home; however, as symptoms get more acute, they search for admission at a psychiatric institution, situation they experience with intense anguish and suffering.

They reported the therapeutics used by the mental institution such as:

straightjacket, electroconvulsive therapy, physical restraint in bed, bandaging, whose objectives of this institutional apparatus were to segregate and shape behaviors. In relation to changes in care, they consider outpatient services such as CAPS/NAPS and mental health outpatient clinics as innovative and feasible strategies. They attributed to these devices the improvement in family relations, the acceptance of the disease and the understanding on how to cope with the conflicting situations brought about by experiencing this reality. Family living is permeated by tensions and conflicts motivated by non-understanding the disease and by the stigmatization of the patient in his/her own family. They mentioned the existence of caregivers’ emotional and financial overburden and reported the strategies found to search for better living. Results evidence that a paradigm change is taking place in the country on the way to assist the person with a mental disorder which goes from the hospital-centered model focused on social exclusion and on the medical power to the psychosocial model which objectifies the treatment in outpatient care services, social reinsertion and rethinking the knowledge in this area. In spite of the advances, there are still many challenges to consolidate the psychosocial model as the articulation between primary care and mental health, qualification of health professionals to welcome and meet the care demands of these clients as well as to broaden the care scope in community-based services.