As representações sociais dos trabalhadores de enfermagem não enfermeiros (técnicos e auxiliares de enfermagem) sobre o trabalho em Unidades de Terapia Intensiva em um hospital-escola

Publication year: 2000

O estudo objetivou identificar e analisar as representações sociais dos trabalhadores de enfermagem sobre o trabalho em UTIs e os modos de expressão do sofrimento e prazer ligados a esse trabalho. Objetivou ainda reconhecer as formas deenfrentamento do sofrimento construídas por esses trabalhadores, tanto individuais como coletivas, no desenvolvimento do trabalho peculiar nessa unidade. Para tanto, foram realizadas entrevistas com os trabalhadores de enfermagem (técnicos eauxiliares de enfermagem) que atuam em UTI (Pediátrica, Clínica Médica e Clínica Cirúrgica) de um hospital de ensino do Estado de São Paulo. A análise dos dados fundamentou-se na análise de conteúdo, mais precisamente na técnica de análise daenunciação. Utilizou-se também o software ALCEST para identificação dos elementos da enunciação que compõem o núcleo das representações. Os resultados do estudo evidenciaram que o trabalho na UTI possibilita aos trabalhadores de enfermagem tantoa vivência do prazer como do sofrimento. A tarefa do cuidar possibilita aos trabalhadores de enfermagem sentirem-se úteis, na medida em que ajudam, servem, confortam e realizam cuidados que garantem a expectativa de poderem ver os pacientesmelhorarem. No entanto, evidenciou-se que essa tarefa causa, também, muito sofrimento, o que leva os trabalhadores a utilizarem-se de diversos mecanismos de defesa descritos pela Psicopatologia e pela Psicanálise. Aprendeu-se que as formas deorganização edivisão do trabalho na enfermagem e as precárias condições de trabalho são, também, fatores que contribuem para o aumento do desgaste psíquico, desencadeando a criação e manutenção de diversas estratégias coletivas de defesa.Concluiu-se que os trabalhadores de enfermagem precisam ter garantido um espaço institucional para falarem sobre os diversos sentimentos suscitados pelo trabalho que desenvolvem, caso contrário correm o risco de adoecimento e/ou tornarem-se ) alienados. Ficou evidente a necessidade de serem adotados modelos de gerenciamento mais flexíveis, que permitam maior participação dos trabalhadores de enfermagem nas decisões e que haja distribuição de poderes entre todos osmembros da equipe de enfermagem, de modo a resgatar o sentido do trabalho.
The study identifies and analyses social representations of Intensive Care Unit (ICU) nursing staff about their work and how they express feelings of sorrow and pleasure associated to their job, as well as, individual and collective mechanismsdeveloped by them to deal with suffering. Interviews were carried out with auxiliary nursing personel (licensed practical nurse and nurse tecnician) from ICU units (pediatric, medical and surgical) of a teaching hospital in the state of SãoPaulo. In order to identify elements which make up the content of their representations, content analysis method was used, in particular the enunciation technique, together with the use of ALCEST software. The results indicate that ICU unitsprovide nursing personnel the opportunity to experience both pleasure and sorrow. Nursing staff experience a sense of usefulness as they care for, help, serve, comfort and provide health care expected to bring about improvements in theirpatients. However, this task also causes much suffering, forcing nursing staff to utilize, individually, several defense mechanisms. The forms of nursing organization and work division and the precarious working conditions are also factors thatcontribute to create and sustain the various defense strategies used collectively. The study concludes that ICU nursing personnel need more opportunity to express the various feelings experienced in their work, otherwise, they run the riskofbecoming alienated. Therefore, more flexible management models need to be adopted in order to allow greater participation in decisions and distribution of power among all members of the nursing staff.