Reprodução social, trabalho materno e nutrição infantil

Publication year: 2000

Enquanto sub-projeto de uma investigação mais ampla, este estudo tomou como objeto a relação do estado nutricional de crianças < 7 anos com as formas de reprodução social de suas famílias - formas de trabalhar e de viver, intermediadas pela inserção materna no trabalho remunerado - nos diferentes grupos/estratos sociais homogêneos da população residente na área de abrangência do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. Através de amostragem casual-estratificada-proporcional, foram selecionadas 349 famílias, 80 delas com crianças menores de 7 anos, representando um total de 108 crianças. A partir de um modelo teórico hierarquizado, centrado na categoria da Reprodução Social foramcompostos os perfís de reprodução social - utilizando-se de uma base teórico-metodológica-operacional que pré-definiu três grupos sociais homogêneos (GSH´s) - e dimensionadas as atividades produtivas maternas (trabalho qualificado e não qualificado). Através de diagnóstico antropométrico no momento da entrevista, obteve-se as variáveis peso (P), altura (A) e idade (I) e classificou-se o estado nutricional das crianças segundo critérios de Sawaya, que utiliza os níveis de corte para Z score propostos por Frisancho: desnutrição crônica (A/I <-1,645 e P/A <-1,645), desnutrição aguda (A/I >OU=-1,645, P/A<-1,645), desnutrição pregressa (A/I<-1,645, P/A >OU=-1,645 a OU=-1,645 a+1,645) e sobrepeso (A/I >OU=-1,645, P/A>+1,645). Os resultados, evidenciaram que 84,3% da amostra estudada de crianças foi constituída por famílias com formas de reprodução social desqualificadas: 48,2% componentes do GSH2, que pareceram lutar pela sua integração na vida social, enfrentando a exclusão social relativa às suas formas de viver ou de trabalhar e, 36,1% do GSH3, que ao apresentarem as mais precárias formas de reprodução, tanto no ) momento da produção como de consumo, se evidenciaram como as mais profundamente excluídas da integração social. Os 15,7% de famílias que compuseram o GSH1 preencheram os atributos para inserção qualificada na produção se mostrando protegidas da precarização no trabalho, com um padrão diferenciado de consumo e de representação coletiva e com possibilidade de uso do espaço geo-social.

As formas de trabalhar maternas acompanharam este padrão de reprodução social podendo ser consideradas como um indicador potencial de como as famílias se inseriram no processo produtivo:

verificou-se que do total de 56,5% de mães inseridas no trabalho remunerado (maior porcentagem nos GSH2 e GSH3), 54,1% apresentaram formas de trabalho não qualificado, sendo quase a totalidade agregadas ao GSH3, conformando um grupo de inseridas nos serviços domésticos (66,6%, P<0,05), no trabalho informal, onde 90,9% não usufruíam de benefícios do trabalho e 61,1% não possuíam carteira profissional assinada, além de apresentar um renda mensal
As a subproject of a wider investigation, the object of this study was the relationship between the nutritional condition of children under the age of 7, and the profiles of their families´social reproduction - working and living conditions mediated by maternal labor - in the different homogeneous social groups of the population that lives in the areas of the University of the São Paulo Hospital. Through a casual-stratified-proportional sample, 349 families were selected: 80 had children under the age of 7, representing a total of 108 children. From a hierarchized theoretical model, focused on the category of social reproduction, the profiles of such social reproduction were built - using atheoretical-methodological-operational base, which established 3 homogeneous social groups (GSH´s). It was also dimensioned the maternal productive activities (qualified and non qualified labor). Through antropometric diagnosis made during theinterview, it was possible to obtain the variables of weight (W), height (H) and age (A). The nutritional state of the kids was classified according to Sawaya´s standards, which uses the interception levels to Z score proposed by frisancho:chronic malnutrition (H/A <-1,645 and W/H <-1,645), acute malnutrition (H/A>OR=-1,645, W/H <-1,645), prior malnutrition (H/A >-1,645, and W/H >OR=-1,645 to OR=-1,645, W/H >OR=-1,645 to >OR=+1,645), overweight withprior malnutrition(H/A <-1,645, W/H >+1,645) and overweight (H/A >OR=-1,645, W/H >+1,645). The results showed that 84,3% of the sample was formed by families that had unqualified social reproduction status: 48,2% components of GHS2, which seemed to struggle for its integration in social life, going through social exclusion related to its living or working conditions, and 36,1% of GSH3, which showed the most precarious ways of reproduction. Thus, it was the most excluded fromsocial integration. 15,7% of the familes of the GSH1 filled the qualifications for the adequated integration in production, and they seemed protected from work´s inconsistency, with a differentiated pattern of consuption and group representation, as well as with the possibility of the geo-social use of space. The maternal ways of labor followed this pattern of social reproduction, being considered as a potential indicator of how the families would introduce themselves in the productive process: it was verified that of the total mothers working in labor paid (56,5%), 54.1% weren´t qualified for their job. Almost all of them were adjoined in the GSH3, forming a group that worked as house servants (66,6%), in informal labor, without the benefits that came from such work (90,9%) and didn´t have their labor cards signed (61.1%), besides showing a monthly gain of